sábado, 8 de agosto de 2009

Luís Matoso


Voltamos a Santarém e desta vez para referir um monografista da sua terra natal.
Sabe-se que aqui nasceu a 17 de Fevereiro de 1707, baptizado na igreja de S. Nicolau a 26 do mesmo mês, sendo filho de Manuel Montês e de Mariana Matoso.

Com onze anos era Luís Montês Matoso aluno do Colégio de Nª Sª da Conceição, dos Padres da Companhia de Jesus, actual Paço Episcopal.

Em 1715 passou à Universidade de Coimbra para estudar Jurisprudência Pontifícia, cuja Faculdade não prosseguiu por entrar na religião da Ordem Terceira de São Francisco, convento de S. João da Pesqueira, no dia 14 de Agosto de 1720, tendo tomado o hábito com o nome de Frei Luís de Santarém.

Um ano depois faz profissão de “frade de coro”, adoptando então o nome de Frei Luís de Assunção.

Na religião da Ordem Terceira se manteve por dezassete anos até que resolve trocar o mosteiro da S. João da Pesqueira, pela Ordem Militar de S. João de Malta.

Foi no mosteiro de S. João da Pesqueira que desenvolveu o seu gosto pelas letras, biblioteca e arquivo, o que o levou à prática da catalogação, classificação e conservação, passando também pela técnica da organização, o que lhe originou bons conhecimentos de arquivista e bibliotecário.

Luís Matoso veio a falecer na sua terra natal, em casa de sua mãe, de um acidente, aos seis de Outubro de 1750, sendo sepultado no Convento do Sítio, como religioso, filho desta Congregação.

Crê o Dr. Virgílio Arruda, um dos seus biógrafos, de que Frei Luís teria vindo para Santarém muito antes da sua admissão na Ordem de Malta.

Em 1617 os Terceiros trocaram o local onde se encontravam (Santa Catarina dos Olivais, no Vale de Moural), pelo de Madalena ou do Sítio, fora dos muros da vila de Santarém, no local onde se encontrava o Palácio da Mitra, dos Arcebispos de Lisboa (antigo hospital).

Historiador, genealogista e jornalista, escreveu inúmeros catálogos de livros, examinou muitos cartórios e publicou alguns opúsculos. Lia com facilidade todo o género de caracteres antigos,

Foi o primeiro Presidente da Academia dos Aventureiros Scalabitanos e exerceu as funções de cartorário da Misericórdia e do Hospital de Jesus.
Frei Manuel do Cenáculo diz que se dedicou a investigar os antigos cartórios da sua pátria, de cujo trabalho resultou “as notícias mais recônditas para formar a História da Vila de Santarém”.

[Rua Luís Matoso, Bairro dos Combatentes. Foto JV]
O Padre Matoso, segundo o Professor Veríssimo Serrrão, foi uma das mais curiosas figuras da nossa história cultural da primeira metade do século XVIII e o Dr. Virgílio Arruda a ele se refere nos seguintes termos: “Investigador, não isento de paixões pelos atributos da vila que lhe foi berço, deu-se ao afanoso encargo de descrever o passado e enumerar os encantos do presente compondo uma Santarém Ilustrada que lástima é ter ficado inédita, arquivado o manuscrito na Biblioteca de Évora”.

Dos trabalhos que compôs, raros são os que chegaram a ser impressos. Os manuscritos, cuja existência é conhecida, estão divididos pelas bibliotecas de Évora, Santarém, Torres Novas e da Academia das Ciências de Lisboa.

Redigiu, desde 1740, o “Folheto de Lisboa” espécie de jornal noticioso.

Dos trabalhos que efectuou, indicaremos, com as notas que pensamos merecerem maior interesse:

IMPRESSOS
- Relação do Horroroso Estrago e Ruínas Sucedida no Mosteiro das Religiosas de S. Domingos de Santarém, 1742;
- História do Senhor Roubado de Odivelas, 1745;
- Notícia da Fonte das Almas … no Termo da Vila de Santarém, 1748;

MANUSCRITOS
- Santarém Ilustrada, 1738;
- Título de Família de Infantes e Siqueiras, da Vila de Santarém, 1739;
-Arquivo Selecto Scalabitano;
- Catacumba Scalabitana;
- Memórias das Freguesias do Arcediago de Santarém;
- Memórias sepulcrais da Vila de Santarém;
- Memórias para a História da Vila de Torres Novas;
- Memórias da Azinhaga e de Pombal (actual Pombalinho);

O “presbítero escalabitanense”, como se intitulava, tem o nome perpetuado desde a década de quarenta numa das ruas do Bairro dos Combatentes.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
Luís Montês Matoso, Historiador e Jornalista, Virgílio Arruda, 1980
História de Portugal, Veríssimo Serrão, Vol. V, 1980