sábado, 26 de setembro de 2009

Afonso de Albuquerque

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 28 DE JULHO DE 1995)



Se há figuras que nos causam algumas complicações devido ao seu currículo ser muito sucinto, não possibilitando uma apresentação isolada, havendo necessidade de recorrer ao grupo, outras oferecem-nos “problemas” muito semelhantes mas de sinal contrário, já que são figuras nacionais, ou mesmo internacionais, com extensos dados ao dispor pelo que temos a necessidade de resumir, escolhendo, o que não se torna fácil de executar.
Está neste caso a “figura” que hoje iremos referir, o “leão dos mares” e a quem Camões chamou “terríbel”.

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Afonso de Albuquerque nasceu na quinta do Paraíso, junto a Alhandra, entre 1445 e 1462.

Foi o segundo filho do 3º Senhor de Vila Verde dos Francos, Gonçalo de Albuquerque, conselheiro de D. Afonso V, e de D. Leonor de Meneses. Era neto e bisneto dos escrivães da puridade de D. João I e de D. Duarte, Gonçalo Lourenço e João Gonçalves de Gomide.

Fidalgo de linhagem, tomou parte na batalha do Totó (1476). Participou também no socorro enviado por D. Afonso V ao rei de Nápoles, apoquentado pelos turcos em 1480. Quatro anos depois faz parte da expedição de socorro à fortaleza marroquina da Graciosa.

Foi estribeiro-mor de D. João II. Quando este morreu, voltou a África com um irmão que aí morreu em luta com os mouros.

Regressando a Portugal, foi integrado na guarda do rei D. Manuel.

Em 1503 parte para a Índia chefiado uma capitania de três naus (a outra ia sobre o comando de seu primo, Francisco de Albuquerque) que sofreram grandes temporais mas logo que chegaram ao Oriente, obtiveram assinalados êxitos.

Não se demora muito tempo por aquelas paragens pois a 25 de Janeiro do ano seguinte regressa a Portugal começando a ser notórias as conferências secretas que tem com o Venturoso.

Em 1506 e possivelmente em resultado dessas conferências, parte novamente com destino ao Oriente, na armada de Tristão da Cunha, comandando seis velas e devia acompanhá-lo até à ilha de Socotorá.

Afonso de Albuquerque fazia-se acompanhar, secretamente, de um documento que o nomeava Governador da Índia logo que D. Francisco de Almeida terminasse o seu mandato (1505/1508). Até essa altura, tinha a missão de vigiar com a sua armada, o mar da Arábia.

Ataca e faz render Curiate, seguem-se-lhe Mascate, Soar, Orfacate e Ormuz. Aqui a peleja foi terrífica e o próprio Albuquerque sai ligeiramente ferido da refrega.

Procura então dar início e abre os alicerces de uma fortaleza nesta cidade mas não obtém o apoio dos capitães, Afonso Lopes da Costa, António do Campo e João da Nova, que se insubordinam e o abandonam.

Ficando apenas com dois navios, Albuquerque dirige-se novamente a Socotorá onde inverna enquanto os capitães com ele desavindos, vão acusá-lo ao Vice-Rei, D. Francisco de Almeida que lhe ordena a uma devassa.

As ideias do domínio do comércio no Oriente eram diferentes entre eles. Enquanto D. Francisco procurava dominar pela força naval, devendo para o efeito manter no mar poderosa armada, Afonso de Albuquerque procurava o domínio da terra com a ocupação de pontos chave e a edificação de fortalezas.

Sabendo do que se estava congeminando contra si, Albuquerque dirige-se a Cananor onde se encontrava o vice-rei.

Naturalmente que o encontro não foi amistoso (Dezembro de 1508) e Afonso de Albuquerque já conhecedor das ordens do Reino, exige a entrega do Governo o que o vice-rei recusa.

O ódio entre os dois aumenta, a devassa prossegue acabando com a prisão de Afonso de Albuquerque.

Chegou pouco tempo depois o Marechal Fernando Coutinho, com Ordens do Reino, cujo primeiro acto é soltar Albuquerque, seguindo os dois para Cochim, onde chegaram a 29 de Outubro de 1509.

D. Francisco de Almeida parte a 20 de Novembro para Portugal e Afonso de Albuquerque assumiu finalmente o lugar de Governador da Índia.

Durante o seu governo tomou duas vezes a cidade de Goa e a de Malaca, construiu a fortaleza de Calecut, foi ao estreito de Ormuz, levantou uma fortaleza na ilha de Diu e outra na cidade de Goa.

Procurou criar laços familiares entre naturais e portugueses, favorecendo o casamento de mulheres indígenas com militares e funcionários portugueses.

Lançou os fundamentos do Grande Império Português que se manteve próspero por mais de um século.

Faleceu na barra da Aguada a 15 de Dezembro de 1515, um domingo, quando regressava a Goa, depois da conquista de Ormuz, vítima da ingratidão do monarca que premiou os seus grandes serviços demitindo-o do cargo, sendo substituído por Lopo Soares de Albergaria.

Pouco antes de morrer, teria pronunciado a frase que ficou célebre:- “Mal com os homens por amor de el-rei e mal com el-rei, por amor dos homens” E morreu.
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Os Vice-Reis da Índia no Período da Expansão (1505-1581), José F. Ferreira Martins, 1986.
História de Portugal, Vol. V, dir. de João Medina.
Dicionário de História de Portugal, Vol. 1, dir. de Joel Serrão.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Os Descobrimentos Portugueses, Luís Albuquerque, 1986.