domingo, 13 de setembro de 2009

Infante D. Luís



(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 14.07.1995)


O quarto filho de D. Manuel e de sua segunda mulher, D. Maria, nasceu em Abrantes no dia 3 de Março de 1506, numa altura em que a corte tinha abandonado Lisboa, fugindo à peste que grassava na capital.

Cedo deu o infante provas de inteligência e dedicação ao estudo, tendo como mestre, entre outros, o sábio Pedro Nunes que lhe ministrou, Aritmética, Geometria e Filosofia, considerando-o um bom aluno.

O Infante D. Luís era de meã estatura, loiro e de bem parecer, bem disposto e prazenteiro no falar, galante no vestir, como o descreve Damião de Góis.

Além disso, era arguto, cauto e com um certo engenho literário e musical.

Acompanhou-o no estudo ministrado por Pedro Nunes, D. João de Castro que foi o 13º Governador e 4º Vice-Rei da Índia.

Condestável do Reino e fronteiro-mor da Comarca de Entre-Tejo e Guadiana, por carta de 16 de Novembro de 1521.

Foi o 5º Duque de Beja, Grão-Prior do Crato por carta de 10 de Março de 1529, pertenceu à Ordem de S. João de Jerusalém; Senhor das vilas de Covilhã, Seia, Almada, Moura, Serpa e de Marvão e dos concelhos de Lafões e Besteiros.

Era príncipe extremamente estimado no paço mas também pelo povo que lhe queria sinceramente pela sua jovialidade, franqueza e inteligência, o que contrastava com o feitio do rei D. João III, seu irmão e que parece não gostar da popularidade do irmão e tenta sempre contrariar os seus planos.

Apesar disso, foi considerado colaborador muito próximo do rei, juntamente com a rainha-mãe, D. Catarina e pelo Conde de Vimioso e de Castanheira que o aconselhavam na governação.

D. Luís era pessoa a quem os cristãos-novos recorriam para moderar o fanatismo de D. João III.

Fundou o Mosteiro de São João da penitencia das Religiosas Maltesas, na vila de Estremoz, para ser habitado por fidalgos pobres.

D. Luís desejava ir à Índia mas apesar de se mostrar à altura do comando dos portugueses naquelas terras do Oriente, o rei recusou-se a nomeá-lo o que naturalmente o Infante não gostou.

Entretanto, em 1530, Carlos V pede auxílio a Portugal para a expedição que ia empreender contra o corsário Barbaroxa, visto este ter-se assenhorado de Tunes e Argel, dominando o Mediterrâneo.

D. João presta efectivamente o auxílio solicitado enviando uma esquadra de vinte caravelas, duas naus e o galeão S. João, “o Botafogo”, considerado o melhor navio da época.

D. Luís pretende comandar a frota mas o rei, mais uma vez, a isso se furta, nomeando para o efeito, António de Saldanha.

Devido ao facto, o infante sai secretamente de Évora, onde a corte se encontrava e dirige-se a Barcelona, sendo recebido por Carlos V que o cumula de gentilezas, dando--lhe lugar na expedição. É então que o rei se vê obrigado a enviar carta ordenando a António de Saldanha que o infante fosse de todos obedecido durante a jornada, como se fosse ele próprio, rei.

D. Luís governando o Botafogo, com 366 peças de bronze, cortou a fortíssima cadeia de ferro que atravessava o porto de Goleta, dando entrada à frota e obrigando o corsário a fazer-se ao mar, onde a batalha lhe seria mais desfavorável, cumprindo assim a sua missão o que originou largo agradecimento de Carlos V.

Em 1534 são-lhe outorgadas as rendas e o senhorio de todo o termo de Beja. Foi protector de arquitectos, escritores e sábios e o fomentador do gosto renascentista.

Dedicaram-lhe obras vários vultos das nossas letras, como Gil Vicente, Sá de Miranda, Lourenço de Cáceres, D. João de Castro e mesmo o mestre sábio, Pedro Nunes.

O infante teve várias vezes o matrimónio negociado mas nunca concluído, vindo a morrer solteiro.

Estiveram nestas condições, Maria Tudor, então princesa, Cristina da Dinamarca, a sobrinha D. Maria que veio a ocupar o trono de Parma e a princesa Edviges da Polónia. Este último casamento negociado por Damião de Góis, foi considerado inoportuno por D. João III.

O Infante deixou contudo um filho legitimado, de Violante Gomes (a Pelicana), judia de rara beleza que se fez cristã e professou no Mosteiro de Almoster, onde veio a morrer. D. António que foi Prior do Crato como seu pai, foi pretendente ao trono de Portugal após a morte do Cardeal-Rei, seu tio.

O Infante D. Luís adoeceu na vila de Salvaterra de Magos, de onde foi levado para Lisboa, falecendo no dia 27 de Maio de 1555, ficando sepultado no Mosteiro de Belém.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário de História de Portugal, dir. de Joel Serrão
História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão
O Mosteiro de Almoster, P. Joaquim Luís Batalha, 1975