domingo, 27 de dezembro de 2009

O Natal

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE DEZEMBRO DE 1998)



Quando escrevemos a última “Memória”, informámos os nossos leitores que tínhamos o desejo e a esperança de voltar às páginas do velhinho “Correio”, talvez o primeiro jornal que lemos, soletrando, principalmente os artigos de âmbito histórico ou desportivo, os que mais nos interessavam. É que, depois de ler o jornal na barbearia do MEU BAIRRO, logo que monetariamente fui independente, assinei-o, o que ainda hoje acontece. Há trinta e nove anos que o “Correio da Extremadura”, como lhe continuaram a chamar os idosos do MEU BAIRRO, pois assim o viram nascer, chega semanalmente às minhas mãos, sem qualquer interrupção, a não ser o atraso que os CTT de vez em quando lhe dá.

Quando estamos longe da nossa terra, a chegada torna-se mais valiosa porque nos inibe de cortar o cordão umbilical. Temos assim possibilidade de acompanhar a vida da nossa terra. Hoje, talvez a necessidade seja um pouco menor pois os meios audiovisuais diariamente levam-nos a casa tudo de importante que se passa no País. Não leva contudo a pequena notícia que ao cidadão comum nada diz mas que a nós, diz-nos muito.

Não vamos escrever nova série de “MEMÓRIAS” mas sim publicar duas ou três que temos escrito há muito e que estão na gaveta, aguardando companhia que pode nunca chegar. De um dia para o outro vão para o cesto dos papéis e acabou-se. Nada de valor ou importante se perdia. O único interesse (se o têm), segundo penso, é fazer trazer à memória dos velhos moradores do MEU BAIRRO, coisas de nada que conhecem tão bem ou muito melhor do que eu.

Tenho a certeza que aos assuntos apresentados os leitores referidos acrescentarão sempre mais isto ou aquilo e farão correcções que acharem por conveniente.

Vamos então ao assunto que nos trouxe.

Onde estava o subsídio de natal? Nem se sabia o que era isso! É uma conquista de ontem! Falava-se à socapa que fulano ou beltrano recebia as broas de Natal que o pat4rão dava a alguns chegados colaboradores, principalmente aos que tinham mais anos de casa. Mas isto constituía uma excepção tal o número exíguo de contemplados, considerados uns felizardos.

Na função pública, por exemplo, o magro vencimento só podia ser recebido a partir do último dia do mês. No dia 23 ou 24 os fundos, se os havia, eram bem poucos, quando não se estava gastando a crédito daqui e dali.

Carne, pouco se comprava; o peixe era mais acessível na altura. Comiam-se ovos pois havia galinheiro no quintal, legumes e hortaliças, afinal o que hoje os técnicos dizem ser uma alimentação saudável.

Apesar de tudo, nesses já distantes anos da década de 40/50, comemorava-se o nascimento do Menino Jesus no MEU BAIRRO, mas a níveis muito diferentes dos de hoje.

Fazia-se o presépio? É claro que sim mas... ia-se às pedrinhas, ao bonito musgo que se encontrava agarrado ao casco das oliveiras que constituíam os olivais do Louro, do Arrais e do Telhadas, que rodeavam o MEU BAIRRO. Traziam-se também de lá umas piteirinhas para compor a paisagem.

Do areeiro existente ao fundo da Avenida, onde se encontra hoje o Bairro de Santa Isabel, extraíamos a areia necessária.

As imagens eram de papel, que adquiríamos em folhas soltas na “Silva” ou na “Escolar”. Limitando-se a indicar os contornos, pintávamo-las com lápis de cor, colávamos em cartão e finalmente recortávamos.

E como se fazia a iluminação?

Certamente que não íamos às casas dos trezentos que evidentemente não existiam, comprar por dois tostões uma instalação eléctrica. Só conheci tal quando já era um homem feito. Se nessa altura ainda havia casas no MEU BAIRRO que não dispunham de energia eléctrica!

Mas nem por isso os presépios deixavam de ser iluminados. Em casa de meus pais utilizavam-se as cascas (conchas) de caracoletas que se enchiam de azeite colocando-se um pavio de algodão ou de uma planta cuja uma das partes se prestava a essa utilização, depois de convenientemente seca e que era conhecida por erva das lamparinas. Posicionavam-se enterradas na areia e em sítios estratégicos, evitando-se a sua visibilidade.

Havia quem utilizasse como lamparinas outros objectos e o petróleo igualmente era utilizado, aqui provocando um cheiro nada agradável.

Havia que ter cuidado e muitas vezes aconteciam incêndios.

A estrela também nós fazíamos, em papelão e forrada com a película “prateada” que envolvia alguns maços de cigarros de então.

É evidente que havia presépios mais evoluídos, de figuras impressas a cores e outras formando logo o conjunto e mesmo de barro ou louça, mas o vulgar, era o que descrevemos.

Nessas alturas mal se falava no Pai Natal. A mim diziam-me que as prendas eram postas no sapatinho pelo Menino Jesus que descia pela chaminé. Nesse sentido, foi sempre lá que pus o sapato

Havia uma regra a respeitar, é que o Menino Jesus só vinha depois da meia-noite e não se sabia a hora a que chegava, já que o trabalho era muito. As crianças, não se queriam deitar mas à hora habitual o sono chegava e lá íamos para a cama. A minha preocupação, lembro-me bem, tinha a ver, além das prendas, com a chegada do Menino Jesus, que queríamos conhecer.

Só no outro dia (dia 25), quando nos levantávamos, éramos alertados para a circunstância de ainda não termos visto o que o Menino Jesus nos tinha posto no sapatinho. Era a euforia, os pulos, os beijos, as primeiras observações!

O que é que o sapatinho no MEU BAIRRO tinha normalmente? Um brinquedo muito simples (automóvel de folha, camioneta de madeira ou carro de bois, uma pequena bola de borracha, prenda não muito usada porque partia os vidros das janelas dos vizinhos quando não das nossas, etc.) as meninas contempladas com bonecas, camas, tachos e panelas. Começavam bem cedo a secundarização da mulher!

Além disso havia umas “tabletes” de chocolate ordinário, daquelas que tinham uns bonecos colados à “prata” envolvente, que penso custavam trinta centavos, uns rebuçados e uma peça de vestuário. Quem tinha tudo isto era muito bom – sentia-se feliz. E bem pouco era!

Notar que não havia habitualmente prendas para os filhos mais crescidos que, quando já trabalhavam, eram os “meninos jesus “dos mais novos. Mais ninguém na família recebia prendas!

Não posso deixar de aqui referir duas prendas que o meu sapatinho acolheu.

Teria dez anos e por isso já sabia na altura que o Menino Jesus era outro, no caso a minha irmã mais nova: - uma caixa de madeira (dupla) para transporte e arrumação de lápis e borrachas, que muito gostei e uma pequena bússola. Pois caro leitor, apesar de tantos anos passados, essas duas insignificantes peças ainda fazem parte do meu património e têm para mim, elevadíssima cotação.

Também nessa altura se procurava ter uma mesa mais rica. A consoada não era muito uniforme. O bacalhau (na altura a pataco) com batatas e couves constituía o prato dos pobres, um galo corado no forno e nalgumas casas cabrito recheado constituíam algumas das hipóteses nas casas com menos dificuldades. Mas eram pratos que apareciam na mesa uma vez por ano!

Mais uniforme era a doçaria que se tratava quase exclusivamente da massa frita representada nos velhozes (filhós), “fritos” e coscorões. Quem tivesse origens alentejanas, como a mim me acontecia, não deixava de haver as azevias de grão ou batata-doce.

Sobre o assunto, foi o que a Memória me conseguiu trazer ao invocá-la.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A Implantação da República

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 4 DE OUTUBRO DE 1991)



Desta vez, não foi difícil encontrar o tema a desenvolver. Ele ajusta-se ao momento visto passar amanhã mais um aniversário da queda do regime monárquico.

Interessará por venturas aos varzeenses e... não só, saber alguma coisa do que se passou nesse já distante ano de 1910.


É de sempre o choque provocado pela mudança profunda de qualquer regime político. As cenas repetem-se, chegando mesmo à utilização de termos revolucionários. Sucedem-se as justiças e injustiças, aproveita-se a mudança para retaliações de ordem pessoal, de fachada política. Para falarmos só nos últimos tempos, foi assim com a implantação do liberalismo, foi assim com a República, foi assim com o 28 de Maio de 1926, foi assim com o 25 de Abril de 1974.

A freguesia da Várzea não ficou inerte com a Proclamação da República e apenas dezoito dias chegaram para que a Comissão Paroquial Republicana, nomeada por alvará de 21 de Outubro de 1910, do Governador Civil, tomasse posse. Era constituída pelos cidadãos, Joaquim Eloy, Manuel Glórias e Joaquim Lopes, e a posse foi-lhe dada pela Junta Paroquial cessante, de que faziam parte, o Padre João Nuno Cotrim (presidente), João Costa e Guilherme Vargas.

Foram entregues os valores existentes, entre eles uma imagem do Sagrado Coração, um estandarte, um resplendor de prata dourado, etc., objectos pertencentes ao extinto Apostolado da Oração da Várzea.

A Comissão empossada resolve reunir de quinze em quinze dias, ordinariamente, aos sábados, pelas sete horas da tarde e em casa do cidadão membro da mesma, Joaquim Eloy. (1)

No dia seguinte, 24 de Outubro, realiza-se a primeira sessão mas com a presença de mais dois elementos, João Lopes da Fonseca e António Fragoso Rhodes.

Não se sabe porque não tomaram posse no dia anterior e nem a eles se faz qualquer referência naquele acto.

Procedeu-se à eleição para os cargos, que deu o seguinte resultado: João Lopes da Fonseca (presidente), Joaquim Lopes (tesoureiro) e Joaquim Eloy, secretário.

É nítida a preocupação de arranjar alguém que pudesse desempenhar capazmente a presidência e daí talvez o seu aparecimento tardio.

Republicano convicto? Talvez não. Republicano de ocasião, é possível.

Por proposta do vogal Manuel Glórias, resolveu-se informar o Governo Civil da recusa da anterior Junta, em entregar vários objectos, entre os quais um harmónio de que se desconhece o paradeiro. (2)

Mais tarde são entregues um Menino Jesus, um crucifixo e uma imagem de S. Pedro.

Outros são negados pois declara-se pertencerem a particulares. Apesar disso são pedidas providências no sentido de serem punidos pelas irregularidades detectadas, solicitando-se para o efeito uma audiência à Junta transacta. (3)

Em 29 de Outubro, ainda em ambiente político quente, o tesoureiro, Joaquim Lopes, propõe que se oficie ao Administrador do Concelho, para que seja extensivo a esta freguesia a proibição do dobre pelo sino, no dia de Finados.

A par da medida revolucionária é a vez do presidente propor um bodo a vinte pobres, dos mais necessitados, para regozijo da Proclamação da República. (4)

Entretanto, o vogal António Fragoso Rhodes é substituído por António Luiz Jacinto.

Como é natural, processa-se o saneamento político da Comissão de Beneficência, que passou a ser constituída por:- Dr. Júlio César Madeira Montez, Augusto de Oliveira Mendes, António Duarte do Carmo, David Martins Heitor e João Costa Constâncio. (5)

O horário do comércio local foi assunto muito debatido nas primeiras sessões republicanas e originou posições divergentes, o que não era habitual.

Pretende-se uniformizar a hora de encerramento tendo sido proposto e acabou por ser aprovado por maioria: “deverá o regedor mandar por um cabo de polícia, fazer o sinal com o toque da sineta existente na Capela de Santo António, procedendo o mesmo cabo, em seguida, a uma ronda por todas as tabernas. Como porém há sítios onde a sineta não é ouvida, deverão ser colocados editais para o mesmo fim com fiscalização feita pelos mesmos cabos de polícia”. (6)

[Actual edifício da Junta de Freguesia. Foto JV, 2005]

Na sessão de 1.7.1911 é aprovado um voto de regozijo pelas melhoras do Dr. Afonso Costa, Ministro da Justiça, voto que se deve fazer chegar ao seu conhecimento.

Cabe a esta Comissão o primeiro pedido para a criação de uma escola mista no lugar de Perofilho, pois fica a uma distância de 5 km. (7) da única existente na freguesia, situada em Vilgateira.

É pedida em contrapartida a dissolução da Irmandade Fabriqueira da Freguesia. (8)

Outra deliberação curiosa foi tomada:- Pedir autorização para que seja dados nomes de pessoas ilustre e históricas às ruas de Vilgateira e numerar todas as portas(9). Passados oitenta anos (!), ainda não foi feito, apesar do fornecimento de energia eléctrica e água ao domicílio.

Na década de setenta a Junta de Freguesia deu o nome de “Heróis do Ultramar” a uma das ruas de Vilgateira, mas nem sequer foi colocada placa toponímica, já que não havia verba para isso.

Pela leitura das actas das sessões nota-se o azedume causado pelos monárquicos locais, alguns referidos directamente mas outros que se lêem nas entrelinhas.

É curiosa a proposta feita por Joaquim Eloy, que foi aprovada:- “(...) caso rebente a contra-revolução se tomem rigorosas medidas visto haver grande número de beatos e religiosos encapotados e que toda a cautela é pouca, convidando-se por meio de editais para os cidadãos que queiram ir defender a Pátria e a República e que se queiram alistar, a começar pelo proponente”. (10)

É natural que alguns factos passados neste período tenham ficado ma memória do povo varzeense, transmitidos de pais para filhos pela via oral.

As circunstâncias da vida não nos permitiram ir procurá-los para aqui os deixarmos escritos.

[Edifício onde funcionou a antiga Junta de Freguesia, hoje biblioteca. Foto JV, 2009]

Pensamos que se a fonte documental é a base de uma investigação, os “floreados” da tradição, e nunca passando de tradição, ajudam-nos a compreender talvez melhor os assuntos. Existem mesmo factos reais que a documentação não regista por variadíssimos condicionalismos.

Também somos de opinião que seria interessante verificar a trajectória política destes “políticos”.Talvez tivéssemos dificuldades nalguns casos, entrando em dúvidas se não existiam duas pessoas com o mesmo nome!

As certidões de nascimento encarregavam-se de nos confirmar que se tratavam de uma única e só pessoa!

NOTAS

(1)– Livro de Actas da Junta de Paróquia, iniciado em 1.12.1873, sessão de 23.10.1910
(2) – Idem, sessão de 24.10.1910
(3) – Idem, sessão de 12.11.1910
(4) – Idem, sessão de 29.10.1910
(5) – Idem, sessão de 1.12.1910
(6) – Idem, sessão de 24.12.1910
(7) – Ofício do Presidente da Câmara, datado de 14.4.1910
(8) – Ofício do Presidente da Câmara datado de 24.3.1911
(9) – Acta da Sessão de 9.10.1912
(10) – Acta da sessão de 1.7.1911

sábado, 19 de dezembro de 2009

A farinação

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 27 SETEMBRO DE 1991)


Desde tempos recuados que pelo menos vem da Idade Média, que há referências a moinhos de vento.

Depois de moer o pão com o batimento de duas pedras, passou-se para os moinhos de braços, movidos por escravos e mais tarde por animais.

Em Portugal estes últimos tomaram a designação de atafonas, daí a existência deste topónimo, como acontece em Santarém.

Para aproveitamento da força do vento, existiram moinhos de vários tipos mas os mais difundidos em Portugal são constituído por um corpo em forma de tronco de cone, relativamente baixos, de alvenaria, caiados de branco e onde se rasgam a porta e uma ou mais janelas. É coberto por um tejadilho cónico e giratório que assenta no topo da parede. É dele que sai o mastro onde se fixam os varais, cruzados e onde se situam as quatro velas triangulares de pano e lona.

O tejadilho move-se conforme o vento impõe e por sistema não uniforme,

Os moinhos têm dois pisos ligados por escada interior. A moenda instala-se no superior e no inferior ficam a caixa onde cai a farinha que é para ali levada por uma conduta de madeira, e os anexos.

A estes moinhos chamam de tipo mediterrânico.

Encontram-se espalhados por todo o País, mas da grande maioria só restam as paredes, quando não parte.

É o que acontece na freguesia da Várzea que também teve os seus moinhos, não fosse ela uma região cerealífera, laborando numa altura já distante pois os idosos de agora nem aos avós ouviram falar do seu trabalhar.

[Moinho de Vilgateira.Des.de JV.]

Um, bem junto a Vilgateira, é conhecido naturalmente pelo moinho de Vilgateira (cota 79) e o outro, pelo moinho da Quinta da Amendoeira (cota 45), pela mesma razão.

Sobre o primeiro sabemos da existência de uma lenda que não chegámos a recolher, o que hoje muito lamentamos.

Quem a conhecia, já faleceu. Haverá na freguesia ainda alguém que a saiba contar?

Dentro do segundo nasceu e desenvolveu-se uma árvore, cuja copa ocupa o lugar da cúpula.

<[Moinho da Quinta da Amendoeira. Foto JV, 2009]

Em 8 de Janeiro de 1972 a Junta de Freguesia respondendo a um ofício da Câmara Municipal, informa existirem dois moinhos de vento dos quais só restam as paredes sendo de parecer que deveriam ser classificados como imóveis de interesse público. <[

O moinho de Vilgateira cuja área coberta é de 25 m2, tem um logradouro com 75 m2.


Se dos moinhos de vento ninguém se lembrar de trabalharem, não acontece o mesmo em relação aos hidráulicos – azenhas e moinhos propriamente ditos.

Os ribeiros que correm na freguesia proporcionaram a criação de um número apreciável de azenhas, chegando mesmo algumas a trabalhar ainda nos nossos dias.

A azenha é um moinho hidráulico de roda motriz vertical que dava grande rendimento, principalmente quando se verificou poder ser accionado por um fio de água conduzido pelo alto, por meio de uma caleira de madeira.

O moinho propriamente dito tinha roda horizontal e era o mais numeroso no País, onde se calculava existirem cerca de cinco mil!

No Ribeiro de Perofilho ficava, na Idade Média, um moinho “alveiro e segundeiro”, propriedade conjunta da Alcáçova e do Convento de Santa Clara. (1)

Uma azenha na Ribeira de Vilgateira, das últimas que deixou de trabalhar, acabou por dar origem ao topónimo Casais da Azenha. Já em 1838 o local era assim designado.

Na década de cinquenta deixou de funcionar uma azenha no ribeiro das Laranjeiras e na de 20, a da Quinta da Granja, no ribeiro das Fontainhas.

A dos Limões, no ribeiro de Perofilho, é referida com frequência e teria sido das últimas a deixar de trabalhar.

Pinho Leal, no seu sempre referenciado Portugal Antigo e Moderno, a pág. 766 do volume X, diz que o ribeiro de Perofilho move alguns moinhos.

Com o aparecimento de moagens de nova tecnologia, o que também aconteceu na freguesia, as azenhas foram ultrapassadas e consequentemente deu-se o seu natural abandono.

NOTA
(1) – Santarém Medieval, Maria Ângela V. Beirante, 1980, pág. 166.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Laurentino Veríssimo

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 13 DE OUTUBRO DE 1995)



Nunca me es-queci do nome de Laurentino Veríssimo que ouvia pronunciar na minha infância e depois na adolescência, aos meus familiares mais próximos, ficandome na ideia de tratar-se de uma boa pessoa, defensora dos interesses da sua terra.

O então existente “Bairro Laurentino”, como o povo lhe chamava, era alvo das minhas surtidas, a malta do Matadouro possuía a sua identidade e não gostava de ver os seus domínios devassados pelos que eram corridos à pedrada quando calhava.

Comecei a sentir que o nome do bairro tinha relação com aquele que ouvia aos meus familiares que, questionados responderam afirmativamente.

A maturidade chegou, o interesse aguçou e com o rodar dos tempos, aqui e ali fui obtendo dados que iam aclarando a minha curiosidade até que, em 1986, na passagem do cinquentenário da sua morte, houve alguém que dele se lembrou publicando um interessante artigo intitulado – LAURENTINO VERÍSSIMO, INVESTIGADOR, MÚSICO E NENEMÉRITO, MORREU HÁ CINQUENTA ANOS, forneceu-me elementos que me possibilitaram conhecer melhor esta figura escalabitana de que tanto tinha ouvido falar em rapaz.

Laurentino Veríssimo nasceu em Santarém em 1855.

Republicano fervoroso, aplica os seus recursos económicos no desbravamento de São Lázaro onde faz construir um bairro para ser habitado por famílias de poucas possibilidades monetárias, abrindo uma larga avenida de acesso, isto em 1894 e que vieram a ter o seu nome.

Nomeado em 1915 bibliotecário municipal e Director do Museu Arqueológico, dedica-se com todo o entusiasmo às suas novas actividades.

A biblioteca “Camões”, quando ele toma posse, tinha pouco mais de dois mil volumes e duas décadas depois, ultrapassava os dezoito milhares devido ao seu constante e insano labor.

Muitos eruditos da época procuravam-no no sentido de obterem informações que enriqueciam os seus conhecimentos.

Como conservador do Museu, imprimiu-lhe um sentido de divulgação e procurou acautelar os objectos arqueológicos encontrados, apetrechando-o de novas peças.

Apressado, procura salvar o que restava do Convento de São Domingos e consegue a oferta de um histórico portal que entra no Museu em 1923.

Na altura da sua posse, o Museu possuiu cerca de duzentos objectos, adquiridos desde a fundação, em 1876 e devido à sua dedicação deram entrada mais de seiscentos, conforme refere o seu substituto, Eng. Zeferino Sarmento.

Deve-se a Laurentino Veríssimo um catálogo que elaborou das peças existentes no Museu, tomando em consideração os inventários anteriores.

A Edilidade da época tinha projectado ou deliberado demolir a velha e significativa Torre das Cabaças, relógio da cidade.

A voz e a pena de Laurentino Veríssimo levantou-se com tanta veemência, que só se calou quando conseguiu evitar o crime. A sua audácia veio-lhe a custara “pena de suspensão por trinta dias” com perdas dos respectivos vencimentos e melhorias”, mas isso para Laurentino Veríssimo pouco importava – o valor patrimonial que tinha salvo para a sua terra possuía um valor que não se comparava com qualquer outro.

A velha torre do relógio veio a ser considerada monumento nacional pelo decreto nº 14 985, de 3 de Fevereiro de 1928.

A quando da sua morte, ocorrida em 7 de Dezembro de 1936, a Câmara sanou em parte o erro cometido, já que ficou consignado em acta um voto de profundo pesar pelo seu falecimento, ele que foi um grande amigo de Santarém, da sus Biblioteca e Museu e até de grande parte da sua população. Todas as despesas do funeral ficaram a cargo da Câmara Municipal, segundo a mesma acta.

Laurentino Veríssimo foi um fecundo colaborador da imprensa regional, publicando, segundo levantamento de Bertino Coelho Martins, cento e vinte e nove trabalhos sobre a história local e nacional, nos periódicos: - “Correio da Extremadura”, “Combate”, (Santarém), “Vale do Tejo” (Almeirim) e “Terra Branca” (revista – Chamusca).

Além de um excelente músico, ajudou a fundar a Associação Comercial de Santarém.
Fica-nos a ideia que este santareno pôs sempre a parte espiritual à frente da monetária.

Das novas gerações poucas saberão da existência deste homem que deu o melhor de si à sua terra.

Sem dúvida que os trabalhos que publicou se fossem reunidos em livro, seria, como afirma Bertino Martins, para além de um acto de justiça e de reconhecimento pelo labor dum verdadeiro apaixonado pelas coisas de Santarém, de muito interesse para a historiografia local.

Não conheço nenhum dos cento e vinte e nove artigos publicados e não vai ser fácil conhecê-lo, tanto pela distância a que me encontro de Santarém, como pela dificuldade em encontrar os exemplares dos jornais em que se encontram. Ainda recentemente dirigimo-nos a um arquivo distrital afastado cerca de quatrocentos quilómetros da nossa residência e de trinta jornais que constavam da nossa lista, só três ou quatro encontrámos!
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“Laurentino Veríssimo – Investigador, Músico e Benemérito, morreu há cinquenta anos”, Bertino Coelho Martins, in Correio do Ribatejo de ?. 1986.
“As linhas de força da história Social de Santarém no século XIX”, Jorge Custódio, in Santarém a Cidade e os Homens, 1977
Arqueológio Scalabitano, Francisco Nogueira de Brito

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

António Boto

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 6 DE OUTUBRO DE 1995)



Poeta e prosador de grande sensibilidade que caracteriza o seu modernismo. É um dos mais notáveis e discutidos poetas da sua época.

António Tomás Boto nasceu em Concavada (Abrantes), segundo uns, em 1900, segundo outros em 1897.

O seu aparecimento nos meios literários causou grandes controvérsias e escândalos.
As revistas de vanguarda literária, da época, como a “Contemporânea”, “Athena” e “Águia”, ao publicarem os seus trabalhos, levaram-no a uma grande quantidade de leitores que o começaram a admirar.

Outras revistas, dirigidas a diferentes extractos sociais, igualmente fazem a sua divulgação.

O público e a crítica começaram a considerar o poeta como uma das realidades definitivas e de primeira linha na nossa intelectualidade.

O seu primeiro livro de poemas data de 1920, intitula-se “Canções” e tem prefácio de Manuel Teixeira Gomes, sendo apreendido em 1924. Foi traduzido para o inglês por Fernando Pessoa.

Escreveu a seguir, “António”, uma novela dramática com estudo crítico de Fernando Pessoa.

“Aos vinte e seis anos, Boto, de sobrancelhas depiladas e sempre, segundo os seus próprios amigos, comprometedor, era já uma figura típica de Lisboa”.

Na década de quarenta, fixa-se no Brasil, onde veio a falecer no Rio de Janeiro, no dia 12 de Março de 1959.

Publica, entre outros, mais os seguintes trabalhos: - “Alfama”, peça em três actos, “Trovas””Cantigas de Saudade”, “O Meu Amor Pequenino” (traduzido para o italiano, inglês, alemão e espanhol), “Ciúme”(com estudos críticos de José Régio e de José Gaspar Simões), “Motivos de Beleza” “Curiosidades Estéticas”, “Pequenas Esculturas”, “Olimpíadas”, “Dandismo”, “Cantares”, “Baionetas da Morte”, “”Nove de Abril” (teatro), “Por Causa do Fado” (teatro), “Dar de beber a quem tem sede”, “Verdade e Mentira da Minha Vida”, “Flor do Mal” (teatro) e “Sonetos”.

António Boto colaborou na grande imprensa, incluindo a revista “Presença”.

Quando o General Norton de Matos foi alto-comissário em Angola, desempenhou o lugar de Chefe da Repartição Política e Civil do Zaire.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário Universal Lello
História de Portugal, J. Veríssimo Serrão, Vol XII, 1990
História de Portugal, Dir. João Medina, Vol. 6

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

As vias de comunicação

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 20 DE SETEMBRO DE 1991)

[Carroça no Outeiro da Várzea fazendo o trajecto de Vilgateira-Santarém em 1936. Retirado de memoria com.historia]

Boas vias de comunicação foram sempre e serão um factor, entre outros, de primordial importância para o desenvolvimento de uma povoação ou região.

Ainda que a freguesia da Várzea conte com a presença de duas estradas nacionais, nº 114 (Santarém-Peniche) e 362 (Santarém-Porto de Mós), situam-se praticamente nos extremos, localizando-se Vilgateira e outras aldeias, entre elas, consequentemente fora de mão, circunstância que tem sido negativa para o seu desenvolvimento.

Não há muitos anos os vilgateirenses para utilizarem os transportes públicos colectivos, tinham que se deslocar ao apeadeiro da Quinta do Gualdim ou ao de Perofilho, ambos situados a distâncias consideráveis.

As estradas municipais de macadame e os caminhos, além de poucos, encontravam-se sempre em mau estado, negando-se muitas vezes os motoristas a efectuar os serviços solicitados.

Na década de cinquenta, a linha viária dorsal da freguesia foi beneficiada com a criação de uma carreira que ligava Santarém a Rio Maior, passando pelo Cortelo, Outeiro da Várzea, Vilgateira, Carneiria e Casais de Alcobacinha, isto só para referir as povoações da freguesia directamente beneficiadas. O isolamento das populações levou, com esta medida, grande machadada.

[Estrada do Cortelo. Des. de JV, 1980]


A deslocação à cidade era feita antigamente de burro, noutros animais de sela para os mais endinheirados e, de carroça, quando não a pé.

Existia na aldeia um breque que era o táxi da época.

As peripécias passadas nesse percurso, e algumas ouvimos contar, davam matéria para extensa descrição!

Era penosa a ida à cidade, apesar da sua proximidade. Quantas vezes se tinha de recorrer às juntas de bois para retirar as viaturas!

Por estas razões e outras, as deslocações faziam-se em reduzido número, só quando havia imperiosa necessidade, mas as feiras da cidade eram sempre contempladas.

Faziam-se as compras para o ano, desde os utensílios para a lavoura, até às necessidades da casa, passando pelo vestuário e calçado.

Apesar das grandes modificações operadas, o varzeense gosta ainda de ir à Feira da Piedade ou do Milagre e alguns procuram também os mercados mensais de gado.

Apareceu entretanto o luxo da bicicleta! Muitas vezes tinha que se transportar a máquina às costas, a corta-mato, pelos olivais, já que por aí se tornava mais fácil passar!

Ainda vive na aldeia quem quando viu para primeira vez um automóvel subir a ladeira do Rio de Pau, fugiu espavorido.

O troço municipal que saindo junto das Quintas do Gualdim e da Granja, nos leva a Vilgateira, foi o primeiro a ser asfaltado (1972).

Só após 1974 se deu movimento ao asfaltamento das outras estradas municipais, o que constituiu um melhoramento muito considerável. Podemos hoje dizer que a freguesia está bem servida de vias de comunicação.

[Estrada da Perofilho. Foto JV, 2009]

Asfaltou-se o troço de Outeiro-Aramanha. Em 1979 foi a vez da ligação de Perofilho ao Cortelo e finalmente a estrada municipal nº 34, oriunda do alto do Mocho, via utilizada pela Rodoviária Nacional e que constitui a mais curta distância entre a cidade e Vilgateira.

Para completar a rede faltará, se a memória não nos atraiçoa, o troço Vilgateira-Aramanha, passando pela Fonte de Vilgateira ao Maio, pela Pisca e seguindo por Alcobacinha.

As vias de comunicação foram sempre das principais preocupações dos autarcas locais.

A freguesia da Várzea éw hoje atravessada pela auto-estrada (Lisboa-Porto), o que deu ligar a expropriações mas pensamos que tal facto irá pesar no desenvolvimento da freguesia.

Terminaremos o tema com a indicação cronológica de acções desenvolvidas neste campo:

1873 – A Junta de Paróquia deu parecer favorável devido aos benefícios e vantagens que traz à inclusão definitiva da estrada municipal, a que parte ao quilómetro 6 da Estrada Real nº 65 e que termina no lugar de Albergaria, servindo Outeiro da Cortiçada e Correias;

1880 – A pedido da Junta de Paróquia de Abitureiras e com o aval da da Várzea, a mesma estrada passa a “distrital”;

1907 – A Junta de Paróquia pede à Câmara Municipal para que a “contribuição de trabalho” da freguesia seja aplicada na estrada entre Perofilho e Baixinho, que estava intransitável;

1910 – São pedidos cem mil réis para o arranjo do ramal vivinal para a Fonte de Vilgateira;

1911 – Prevê-se o arranjo de 7 km de estrada municipal e a conclusão da estrada de Vilgateira (210 m) com calcetamento nas valetas;

1915 – É deliberado pedir à Câmara Municipal para que também se construa a estrada do Gualdim ao entroncamento com a estrada do Cortelo;

1933 – A Câmara Municipal deliberou mandar reparar a estrada da Fonte de Vilgateira, e um maoa das estradas municipais do distrito de Santarém classificava as seguintes no que respeita à freguesia da Várzea:

E.M. nº 32 – De Perofilho ao Baixinho e ramais;

E.M. nº 33 – De Perofilho ao Gualdim;

E.M. nº 34 – Do Mocho à Várzea e ramais;

1940 – Construção da estrada de Perofilho ao Grainho, e pavimentação inteiramente renovada da estrada de Perofilho à estrada da Várzea;

1947 – É projectada a estrada entre a freguesia da Várzea e a Romeira;

1960 – A população dos Casais dos Chões pede à Junta autorização para consertarem, por sua conta, uma esxtensão de 200 m de estrada que faz limite com a freguesia da Moçarria;

1961 – Foi concedido um subsídio para o arranjo da estrada de Alcobacinha e arranjo da estrada da Charruada – 1 km já se encontre terraplanado. Existem 50 m3 de brita e são necessários outros tantos. Fizeram-se setecentos e cinquenta metros de estrada nova e repararam-se 650;

[Estrada dos Casais da Charruada. Foto JV, 2009]

1966 – Estrada de Vilgateira ao Maio, passando pela Pisca e seguindo por Alcobacinha (1.500 metros). Foi concedido um subsídio de 15 contos. Alargado e construído um aqueduto;

1968 – A Junta de Freguesia pede a construção dos seguintes caminhos: Da Laranjeira aos Casais do Orégão, numa extensão de 455 metros e de Vilgateira ao Rio Feitor, de 165 metros;

1970 – A J. F. gasta 41.495$00 no arranjo da estrada do Quintão ao Grainho;

1972 – Alcatroamento da estrada da Quinta do Gualdim a Vilgateira e pedido à Câmara Municipal do mesmo em relação à do Alto da Olaia ao Alto do Mocho;

1973 – É novamente solicitado o alcatroamento da estrada do Cortelo e a reparação do caminho da Aramanha à fonte do mesmo ligar, numa extensão de cento e cinquenta metros. Igualmente se solicita a reparação da “rua” que parte de Vilgateira para a Fonte do mesmo lugar e da estrada de Vilgateira aos Casais da Aroeira, já da freguesia das Abitureiras;

1979 – É pedido o asfaltamento da estrada do Cortelo, Perofilho e Casais do Rosário;

[Carneiria, autoestrada. Foto JV]

1980 – A J.F. deliberou propor o alcatroamento de:- Rua do Moderno, Casais do Mocho à Flor do Mato, Rua do Quintão. Estrada dos Casais da Charruada, Rua da Parreira, no Grainho e troço da estrada entre a Quinta de S. Martinho e o Laureano. É proposto também o empedramento de: - Estrada das Hortas (Casais da Azenha aos Casais da Narcisa), estrada da Carraceira (do Rio Pau à Carneiria) e estrada dos Casais do Maio e Casais da Aroeira.

Aqui fica o que foi possível reunir sobre o assunto.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lembrando o Prof. Albertino Henriques Barata

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 20 DE OUTUBRO DE 1995) *

Nota Breve
Esta segunda parte das MEMÓRIAS DO MEU BAIRRO que intitulámos de CRÓNICAS SOLTAS seguiu-se a uma primeira série que pensávamos que fosse única.
Pelas razões que fomos explicando ao longo das croniquetas, foram aparecendo pequenos nadas que nos foram sugerindo mais esta, mais aquela e publicadas com grande irregularidade e que se espalharam ao longo dos anos com destaque para 2004 em que foram publicadas dezassete.




Desloquei-me propositadamente a Santarém para assistir ao lançamento do nº 3 – Março de 1992, dos Cadernos Culturais da C.M.S., intitulado NOTÍCIAS HISTÓRICAS SOBRE O CONCELHO DE SANTARÉM, que reuniu as crónicas publicadas neste semanário e na “Voz do Espinheiro”, sobre o concelho de Santarém e de autoria do Prof. Albertino Henriques Barata.

Ao regressar a casa, a cerca de noventa quilómetros de distância, fui buscar uma carta datada de 19 de Abril de 1976 e assinada pelo Prof. Barata, colocando-a, após pequena colagem, no final do livrinho, pois entendemos que o completa.

Pena tenho de me ter desaparecido uma outra posterior que, com as andanças da minha vida profissional se perdeu ou ainda não encontrei. O meu mundo dos papéis, recortes de jornais, revistas, boletins, cartas, papéis avulso, eu sei lá, antes da selecção, organização e arquivo, sofria por vezes alguns ataques de limpeza, de autoria de gente estranha.

Nessa carta, Albertino Barata, com excelente caligrafia, própria dos mestres da sua época, agradecia-nos as palavras que lhe tínhamos endereçado e datadas de 9 de Abril de 1976.

O cronista do “Correio do Ribatejo”, no número de 26 de Março de 1976, tinha feito publicar uma das suas habituais crónicas históricas, intitulada A FREGUESIA DA VÁRZEA ATRAVÉS DOS TEMPOS. Ainda que conhecêssemos tudo ou quase tudo do que lá se escrevia, senti-me na obrigação de lhe agradecer o que tinha escrito sobre a minha freguesia natal, que muito prezo. Ler coisas sobre a nossa terra é sempre agradável.

Quando escrevi ao Prof. Barata, relacionei-o com o Dr. José Henriques Barata que conhecia desde a minha juventude pela leitura de alguns dos seus trabalhos, como “Fastos de Santarém” e artigos dispersos no “Correio do Ribatejo” e “Vida Ribatejana”, de Vila Franca de Xira e admiti que fossem irmãos o que era fácil de deduzir e que se veio a confirmar.

Em contrapartida fui relacionado com os meus familiares, foi-me dado o meu avô como possível “pai” e o que me seria o meu pai. Na segunda carta, a explicação veio:- como é que um homem tão novo se interessava por estes assuntos; fazia-me muito mais velho!

Ao sugerir a publicação das crónicas em livro, o professor dizia-nos:- É POSSÍVEL QUE AS MINHAS CRÓNICAS PUBLICADAS NO “CORREIO DO RIBATEJO” POSSAM SER APROVEITADAS PARA UM (livro). Felizmente que isso veio a acontecer, ainda que o tivesse sido dezasseis anos depois! Mais vale tarde que nunca, como diz o povo.

Faz precisamente hoje nove anos que faleceu o Prof. Albertino Barata.

Sem ser um técnico no assunto, o professor passou muitas e muitas horas em bibliotecas e arquivos compilando o que já se tinha escrito sobre as cidades, vilas e aldeias ribatejanas e sempre que possível, acrescentava algo de inédito e mais recente, que era do seu conhecimento.

Estas crónicas, que foram republicadas neste jornal no que respeita ao concelho de Santarém, tiveram a grande vantagem de numa linguagem acessível levar ao cidadão comum os principais conhecimentos históricos, geográficos, etnográficos e outros sobre as suas terras e vizinhas, o que de outra maneira não lhe seria fácil obter.


[Rua Almeida Garrett onde viveu no Meu Bairro o Prof. Albertino Barata]

Aqui fica esta pequena lembrança ao Prof. Albertino Henriques Barata que viveu muitos anos no MEU BAIRRO, mais precisamente na Rua 2º Visconde de Santarém e daí a inclusão nas MEMÓRIAS DO MEU BAIRRO.

* Este escrito saiu indevidamente publicado na nossa rubrica FIGURAS RIBATENAS, quando o devia ter sido nas MEMÓRIAS DO MEU BAIRRO, aliás como se deduz do texto. Daí esta explicação.