domingo, 21 de fevereiro de 2010

E as árvores ...!

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE MARÇO DE 1999)



Cheguei ontem (8 de Março) a esta cidade que se situa junto do Cabo Carvoeiro depois de uma ausência precisamente de um mês.

Fui para um local completamente diferente, a cerca de quatrocentos quilómetros de distância, ainda que no mesmo país, neste País de assimetrias notórias e que o decorrer dos anos mais vão acentuando.

Além do mais, dormir tranquilamente sem o barulho frenético de bares e discotecas que não nos deixam descansar, executar tarefas que aqui não podemos realizar, fomos com a ideia base de plantar árvores, que realizámos depois de grandes tarefas e foram vinte e duas. Tal actividade, deu-nos grande prazer. Ainda que da máxima de alguém eu já tenha realizado a trempe, a plantação de árvores está a uma distância muito grande, ainda que nunca a minha vida estivesse virada para tal actividade.

Ao regressar a casa, onde ninguém se encontrava devido às suas actividades, dei uma vista de olhos pela correspondência entretanto recebida onde se encontravam vários periódicos regionais. Foi assim que na última página do Correio do Ribatejo de 19 de Fevereiro último li na última página um artigo intitulado, Arborização no Bairro dos Combatentes - QUE FUTURO ? que mexeu muito comigo e de autoria do Sr. Eng. Luís Cunha Romão. Ainda bem que há gente que não fica calada e traz para o jornal a sua opinião e que corresponde certamente à esmagadora maioria dos residentes do Bairro. Não tenho o prazer de conhecer pessoalmente o Sr. Eng. Luís Romão, mas lembro-me muitíssimo bem se não faço confusão, de o ver pela mão de seus pais, de bibinho. Os pais eram um casal extremamente simpático e que recordo frequentemente. Desculpe este pequeno parêntesis.

Estou totalmente de acordo como não podia deixar de ser e os motivos são muitos.
*
Nas Memórias do Meu Bairro várias vezes tive oportunidade de a elas me referir. Muitas estarão perto das seis décadas. Os miúdos do Meu Bairro, como eu, não as destruíamos, pelo contrário, tínhamos uma adoração pela árvore que ficava próximo da nossa porta a que chamávamos “nossa”. Queríamos que fosse a melhor, a maior, a mais aprumada, a mais robusta e entrávamos em discussão uns com os outros, chegando a vias de facto, na defesa da nossa “dama”. Nas dúvidas procedíamos a medições do seu tronco, através de cordéis procurando a posição mais vantajosa. Muitos de nós procedíamos à sua rega assiduamente de tal maneira que a minha mãe ensinou-me que se regasse muito, a raiz apodrecia e a árvore morreria. Devo à minha árvore a origem deste ensinamento.

Apesar das minhas preocupações para o seu engrandecimento nos aspectos já referidos, a verdade e eu já o reconhecia na altura, a minha árvore era muito inferior às suas vizinhas, da direita e da esquerda e em todos os aspectos. Era a de tronco mais reduzido, a menos aprumada, a mais débil mas igualmente nos protegia nos dias de calor que apesar disso não evitava as nossas brincadeiras. Apesar de tudo, tinha-me sempre como seu defensor.

A minha árvore já não existe, já morreu. Tive o cuidado de o verificar e quando vi outra no seu lugar, um ainda jovem exemplar, tive pena da minha árvore mas ao mesmo tempo fiquei satisfeito pela sua substituição, desejando que o novo exemplar seja mais esbelto. A minha árvore desenvolveu-se sempre com aquilo que um leigo, como eu, considera uma doença no tronco que certamente a viria a vitimar.

Quando na época própria se procedia à sua indispensável poda, era uma altura de grande alvoroço para a rapaziada como descrevemos na MEMÓRIA IX, com o subtítulo LIMPEZA DAS ÁRVORES, pelo que, para mim e certamente para a grande maioria para não dizer a totalidade dos ex-moradores e actuais, as árvores da AVENIDA são absolutamente indispensáveis pelo que assassiná-las seria uma torpe ofença para a população do Bairro.



Na minha última MEMÓRIA da 1ª Série, publicada no número de 11 de Junho de 1993, escrevi: Algumas árvores secaram e não foram substituídas e outras, com um porte bastante avantajado, estão decrépitas e já não produzem a folhagem suficiente para embelezamento e proporcionar uma certa fresquidão nos dias quentes de Verão.

Era para este aspecto que eu chamava a atenção na altura das Entidades responsáveis, nunca imaginando que alguém um dia pudesse pensar na sua eliminação.

Algumas pessoas tentaram contactar comigo na altura (mesmo do estrangeiro !) no sentido de me alertarem para o que se estava passando.

Tenho conhecimento que várias vozes se fizeram ouvir, algumas transmitidas no papel e não quero nem posso deixar de nestas pequenas croniquetas de dizer o que penso sobre o assunto.


Além do que já afirmei, penso que é necessário ponderar, entre outros, nos seguintes aspectos:
- O renque de árvores da Avenida dos Combatentes, segundo creio, é o único do tipo existente na cidade de Santarém;
- Foram principalmente elas que deram origem à classificação de Avenida e ao desaparecerem as placas toponímicas teriam de ser alteradas para Rua;
- A beleza que transmitem à velha artéria, não se pode desdizer;
- Em dias de canícula, a protecção que dão aos viajantes é notória;
- Ao entrar no novo milénio e quando as preocupações ambientais começam a atingir parâmetros aceitáveis, ninguém compreenderia que se roubasse a esta avenida o verde que possui.
- Além de tudo o mais que se possa dizer, são o ex-libris do Bairro.



Estamos convictos que foi uma tempestade num copo de água.

Se a Edilidade alguma vez pensou em eliminá-las, por motivos” economissistas”, certamente que irá mudar de posição e atender a opinião fundamentada dos utentes/eleitores, a fim de evitar, além do mais, de possíveis deslocação de votos na altura do ajuste de contas, que são as próximas eleições. Se fosse no “Norte”, seria de uma maneira diferente.