quinta-feira, 11 de março de 2010

D. Garcia de Meneses

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 7 DE DEZEMBRO DE 1995)



Já referimos nestas FIGURAS, alguns Meneses, entre os quais o pai e o avô da que iremos hoje referir.

Filho de D. Duarte de Meneses, 3º Conde de Viana e fronteiro-mor de Alcácer-Ceguer e de sua segunda mulher, D. Isabel de Castro, nasceu em Santarém.

Acompanhando seu pai, foi educado em Alcácer-Ceguer e Ceuta, revelando destemor militar, dotes políticos e talento literário.

Esforçado guerreiro, esteve com D. Afonso V na batalha do Toro (1476), comandando o corpo de cavalaria que seguia na retaguarda da ala do príncipe D. João, mais tarde D. João II.

Comandou também a esquadra mandada pelo rei Africano, em 1480, à Itália, em socorro do rei de Nápoles, ameaçado pelos turcos.

Escreveu em latim a crónica desta expedição, obra que só veio a ser impressa cerca de um século após a sua morte.

Virando-se para a religião, é ordenado sacerdote e nomeado embaixador a Roma onde, na presença do papa Xisto IV e de todo o concistório, na Basílica de S. Pedro, profere uma oração em latim que causou admiração em todos os presentes, incluindo o papa.

De considerada erudição, obteve lugar de destaque na corte pontifícia.


Regressando a Portugal, é feito bispo de Évora.

Instigando e dirigindo, envolve-se numa conspiração de alguma nobreza, chefiada pelo Duque de Viseu, contra o rei.

D. João II foi informado a tempo de a fazer gorar e castigou os implicados.

O Duque de Viseu, D. Diogo e cunhado do monarca, foi por ele apunhalado, em Setúbal, numa sala do Paço real, onde tinha sido chamado. Degolados e esquartejados foram outros cúmplices nos quais se encontravam D. Guterre Coutinho, D. Pedro de Ataíde, D. Fernando de Meneses e D. João, marquês de Montemor.



Se o bispo de Évora não sofreu a mesma pena, foi por ser considerado “ungido do Senhor”. Não deixou porém de ser encerrado numa cisterna da torre de menagem do Castelo de Palmela, cisterna que ainda existe. Em 31 de Agosto de 1484, e cinco dias após ali ter encerrado, acaba os seus dias, envenenado, segundo a versão do cronista Rui de Pina.
Parece ter sido uma inconfidência de D. Garcia de Meneses a Maria Tinoco, sua amante, que o teria revelado a seu irmão Diogo Tinoco a origem da denúncia ao rei.

Foi em Santarém, segundo parece, no Palácio dos Arcebispos que se situava onde é hoje o hospital velho, que a conspiração se organizou.

Aqui fica esta pequena nota biográfica de um santareno que teve uma existência aventurosa e singular.
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Dicionário de História de Portugal, Dir. Joel Serra
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
Santarém na História de Portugal, J. Veríssimo Serra, 1950
História de Portugal, J.Veríssimo Serrão
História e Monumentos de Santarém, Zeferino Sarmento, 1993
Castelos Portugueses, Enciclopédia
pela Imagem
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, Porto, 1975