sexta-feira, 5 de março de 2010

Os toiros

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 22 de NOVEMBRO DE 1991)

[Pega de cernelha tendo por cernelheiro o saudoso Ricardo Rhodes Sérgio]

Quando se fala em divertimentos taurinos, associa-se sempre o assunto ao Ribatejo, onde o campino, cavalo e toiro, ainda funcionam como um ex-libris.

Apesar de o toiro ter o seu habitat na lezíria, à charneca e ao bairro nunca lhes foi indiferente.

Os varzeenses sempre dedicaram à festa dos toiros grande interesse, sendo mesmo “aficionados”.

Sabemos que D. José e D. António Sacoto Galache foram grandes aficionados:- D. José, como moço de forcado (cabo), actuou na Corrida da Instauração (Quinta-feira, 10 de Agosto de 1865), na Praça do Campo de Santana, onde se lidaram catorze toiros. D. António foi moço de curro numa corrida na mesma praça, realizada em 5 de Setembro de 1866, sendo corridos doze toiros pelos cavaleiros Francisco Pinto Basto e Marquês de Castelo Melhor. (1)

“Ir aos toiros” a Santarém, principalmente pela altura das corridas das feiras, ainda é um hábito dos de maiores recursos. Mas “as festas dos toiros”não são só corridas com nomes sonantes. As picarias (largadas de toiros em recintos fechados), são um espectáculo inteiramente popular e feito pelos próprios pagantes e que é do agrado de uma percentagem importante dos ribatejanos.

É frequente a organização de picarias na freguesia. Quando se pretende adquirir fundos para algo de interesse comum, é um dos principais recursos a que se deita a mão. Qualquer outro espectáculo, nunca dá tanto lucro, já que a assistência é numerosa, contando-se também com a presença dos povos limítrofes que nunca deixam de aparecer para mostrar as suas valentias.

Nos primeiros anos da década de setenta, realizaram-se várias picarias que além das tradicionais contusões mais ou menos leves, provocaram infelizmente a morte a um jovem.

Em Agosto e Setembro de 1985, nos anúncios de picarias convidavam-se a participar jovens dos 7 aos 70 anos!

O varzeense Chico da Costa, nas grandes picarias de Santarém e arredores, nos anos cinquenta, marcava sempre a sua presença, pegando de caras e até de costas, quando as coisas corriam bem, o que nem sempre acontecia.

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NOTAS
(1) – Dados recolhidos em prospectos facultados por D. Isabel Rodrigues Casqueiro.