terça-feira, 22 de junho de 2010

Fernão Lopes de Castanheda

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 2 DE FEVEREIRO DE 1996)

[Fernão Lopes de Castanheda. Des. de JV]

Teria nascido à volta de 1500 mas de concreto foi em Santarém que viu a luz do dia.
Era filho natural do licenciado Lopo Fernandes de Castanheda.

Ingressou na Ordem de S. Domingos que abandonou para seguir para a Índia com seu pai que tinha sido nomeado Ouvidor Geral de Goa, embarcando na armada do Governador, Nuno da Cunha, no dia 18 de Abril de 1528.

Lopo de Castanheira já tinha ocupado, entre outros, os cargos de juiz de fora em Estremoz e Coimbra.

Esteve cerca de dez anos no Oriente onde, além de pelejar, compulsou material escrito, investigou cartórios e arquivos, conheceu muitos locais e contactou com capitães e fidalgos que foram realizadores de muitos acontecimentos sobre a passagem dos portugueses por aquelas paragens.

Regressou a Portugal em 1538 sem recursos monetários e sobrecarregado de família.

Teria ingressado na Universidade de Coimbra com o fim de frequentar o curso de bacharel em Artes, mas acaba por ser nomeado bedel da Faculdade das Artes da mesma Universidade (1545) e depois guarda do cartório e livraria, para poder manter-se.

Durante cerca de vinte anos trabalhou na obra que intitulou HISTÓRIA DO DESCOBRIMENTO E CONQUISTA DA ÍNDIA PELOS PORTUGUESES, caracterizada por uma narrativa minuciosa, dando todos os pormenores do pitoresco e da paisagem.

Considerado um cronista imparcial, de grande probidade e honestidade literária, a sua obra foi mais apreciada no estrangeiro do que no seu próprio país e isto talvez devido ao descontentamento de muitos que não desejavam ver relatados certos factos com tanto rigor histórico.

O trabalho dedicado a D. João III, organizado em dez volumes, saiu o primeiro em 1551, com segunda edição em 1554.

Os restantes volumes foram saindo até ao VIII, altura em que a rainha D. Catarina proibiu a impressão dos restantes volumes e isto devido a pressões da fidalguia que não via com bons olhos a revelação dos seus ascendentes.

Entretanto o trabalho é traduzido para francês, castelhano, italiano e inglês.

Foi efectuada uma edição completa em 1833.

Este trabalho constitui uma das mais seguras fontes de informação para o estudo da epopeia lusa no Oriente.

Fernão Lopes de Castanheda, que muito honra ser filho de Santarém, faleceu a 23 de Março de 1559, ficando sepultado na igreja de São Pedro, em Coimbra.

Há muito que o seu nome faz parte da toponímia escalabitana.
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Santarém na História de Portugal, J. Veríssimo Serrão, 1950
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
“Aquele Cronista da Índia”, Capitão Nuno Beja, in Vida Ribatejana, nº especial de 1953
"Fernão Lopes de Castanheda, Um Historiador Santareno do Séc. XVI", Martinho Vicente Rodrigues, in Santarém, os Homens e a Cidade na Época dos Descobrimentos, 1995
Dicionário de História de Portugal, Vol. I, dir. Joel Serrão
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Edições Alfa
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira