terça-feira, 13 de julho de 2010

Duarte Pacheco Pereira

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 1 DE MARÇO DE 1996)



Uns dão-no como natural de Santarém, outros, de Lisboa.

Os seus ascendentes conhecidos vão, pelo menos até Diogo Lopes Pacheco, um dos executores de D. Inês de Castro e de quem era trineto.

Filho de João Pacheco, navegador, que acabou por morrer em Tânger combatendo os mouros e de Isabel Pereira, teria nascido por volta de 1460. Seu bisavô foi alcaide-mor de Santarém.

Em 1488 Bartolomeu Dias, o grande navegador, encontra-o bastante doente na ilha do Príncipe, trazendo-o de regresso a Portugal, onde se recompõe.

Vivendo em Lisboa em 1490, a sua competência em matéria de geografia e cosmografia já é conhecida pelo que integra a delegação portuguesa encarregada de discutir e de estabelecer os termos do Tratado de Tordesilhas (7.6.1494).

Em 1498 participa numa longa expedição ordenada por D. Manuel I que o teria levado a percorrer grande parte das costas americanas e em 1503 acompanha Francisco e Afonso de Albuquerque à Índia onde acaba por ficar como capitão de mar a fim de fazer frente ao Samorim que ameaçava o rei de Cochim pelo facto de este ter boas relações com os Portugueses.

Fez prodígios de valor na defesa de Cochim, sitiada por cinquenta mil indianos e defendida por setenta e sete portugueses e mil “naires”.

O prestígio de Duarte Pacheco motivado pelas suas extraordinárias façanhas, provocaram muito respeito aos inimigos e consolidaram o nosso poder no Oriente.

Em Setembro de 1504 chega à Índia Lopo Soares com o novo capitão-mor do mar, Manuel Teles e Pacheco Pereira regressa a Portugal no ano seguinte, tendo sido recebido por D. Manuel com grande pompa e o acompanha numa procissão, entre a Sé e o Mosteiro de São Domingos, onde o Bispo de Ceuta, D. Diogo Ortiz de Vilhegas pronunciou eloquente sermão alusivo aos seus feitos heróicos.

O rajá de Cochim, agradecido pelos serviços prestados pelo insigne português, pretendeu cumulá-lo de riquezas mas este tudo recusou, excepto o brasão de armas de Triumpara. A riqueza com que regressou à Pátria era constituída por honra e glória.

Começa então a redigir a sua obra, “Esmeraldo de situ orbis” onde confirma os seus conhecimentos de cosmografia e marinharia. É então encarregado por D. Manuel de dar caça ao corsário francês Mondragon que encontra por alturas do Cabo Finisterra, metendo-lhe a pique uma nau apreendendo as outras três e capturando o corsário, saindo-se assim e mais uma vez. Airosamente da sua missão.

Em 1511 é escolhido para ir em socorro de Tânger, onde seu pai tinha morrido, que fora cercado pelo rei de Fez, missão que desempenha com prestígio.

Casa em 1512 com D. Antónia de Albuquerque, filha de Jorge Garcez, secretário de D. Manuel.

É nomeado capitão e Governador de S. Jorge da Mina em 1519, mantendo-se no lugar até 1522, quando é substituído por Afonso de Albuquerque (filho), preso e trazido para Portugal.

Não se conhece bem a situação, afirmando alguns que teria sido vítima de inimizades pessoais, às quais já alude no seu trabalho “Esmeraldo de situ orbis”.

Esteve bastante tempo preso, acabando por ser solto por ordem de D. João III que acaba por lhe conceder uma pensão anual pelos altos serviços prestados.

Camões chama-lhe o Aquiles Lusitano, dedicando-lhe quinze estâncias no canto X de “Os Lusíadas”.

Parece ter morrido na sua terra natal, pobre e esquecido, nos primeiros meses de 1533.
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Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Ed. Alfa
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
Duarte Pacheco Pereira, J. Estêvão Pinto, Edições S.N.I., 1954