domingo, 18 de julho de 2010

Padeiros

Padeiro é, segundo os dicionários, o homem que fabrica ou vende pão; dono de padaria. Neste caso, o título da MEMÓRIA apresentada, só significa o homem que venda pão, já que, pelo menos enquanto vivi no MEU BAIRRO, não me lembro da existência de qualquer padaria. Que eu saiba, viveu contudo no MEU BAIRRO um industrial de panificação que penso também sabia fazer pão e a sua padaria situava-se em instalações que fizeram parte do solar dos Saldanha, ainda com pedra de armas, frente ao mercado municipal (vulgo praça).

Padeiro de profissão, isto é fabricante de pão, durante toda a vida e sempre o conheci vivendo em casa própria, no meu bairro, mas trabalhando na cidade, como então dizíamos, o meu saudoso amigo, alentejano de Mértola, o Sr. José Gomes. (1) A sua primeira mulher e mãe dos seus filhos, de que bem me lembro apesar do seu desaparecimento já ter ocorrido há muitos anos, penso que há mais de cinquenta, desempenhava uma actividade relacionada com o pão, pensando eu ter sido vendedeira.




Vendedeiras de pão, além da já referida e que me lembro ser oriunda da freguesia de Achete, tivemos pelo menos três pessoas do sexo feminino que exerciam a sua actividade nos depósitos do mercado municipal, (mas que viviam no MEU BAIRRO) lojas que circundavam o ainda belo edifício. Havia depósitos de pão, mercearias, talhos, depósito de sementes, pequenos cafés principalmente utilizados pelos trabalhadores do mercado. Destas três figuras, duas eram familiares, mãe e filha, e a outra, ajudou-me a criar.

Sempre me lembro de existir no MEU BAIRRO um depósito de pão que era explorado pelo Sr. Ribeiro, mais tarde por seu filho e depois alugado a quem o explorou por muitos anos, pelo menos até eu lá ter vivido (1959/60). Era aí que eu me deslocava a mandado de minha mãe, para a compra do indispensável pão, o que acontecia com grande parte dos residentes.

Além de toda esta gente que tinha a sua actividade relacionado com o pão, viviam no bairro também os vendedores ambulantes de pão.

O transporte era feito de bicicleta a pedal. Um grande seirão de duas bolsas, confeccionado de verga, era colocado no porta-bagagens da pasteleira. Devido ao peso, muitas vezes os padeiros mandavam adaptar uma roda traseira mais robusta, de secção mais avantajada para assim poder aguentar o peso do padeiro, do pão e da verga, ainda que esta fosse relativamente leve.

O vendedor tinha um contrato com o fabricante, comprando a determinado preço por cada quilo, já que cem pães, não pesavam cem quilos. Depois, vendia à unidade e não ao peso.

O seirão era forrado de pano branco sendo o pão igualmente tapado com o mesmo pano.

Levantavam-se bem cedo para ao sair dos fornos estarem aptos a recebê-lo, bem quentinho, a estalar e lá iam à sua vida, correndo toda a cidade, com roteiro elaborado e fregueses certos, vendendo contudo a quem o solicitasse. Acabava-se a carrada, ia-se buscar outra e outra, até satisfazer toda a freguesia.

Havia aqui um pequeno pormenor a considerar. O pão era tabelado e ao quilo. Naturalmente que os exemplares tinham quase sempre, ou mesmo sempre, um pouco menos pelo que nos depósitos o peso era corrigido pelo contrapeso (o que nem sempre acontecia) o que nunca vi nos vendedores ambulantes, possivelmente seria a compensação para o serviço ao domicílio, aliás o que era justo.

As suas buzinas, de borracha, tinham um toque que os fregueses distinguiam. Conheci três no MEU BAIRRO, o Sr. Leonel Padeiro (Leonel da Trindade Pinto, falecido não há muitos anos, apaixonado pela columbofilia, sócio e dirigente do extinto Sport Grupo União Operária), depois o seu filho e também o Sr. Manuel Fazenda.

Tudo isto desapareceu com a evolução dos tempos. Hoje nem sei como as coisas se processam mas será igual ao que acontece nas outras terras. Nas pequenas e por esse país fora, continua a fazer-se a venda ao domicílio em carrinhas que vendem pão de toda a espécie, bolos, folares, etc. e que se deslocam a distâncias consideráveis.

Também eu compro pão em tais circunstâncias quando não estou na cidade, mas no campo e costumo receber o vendedor de pão dizendo: - Aqui está o padeiro que não sabe fazer pão -, ao que ele me responde, : lá isso é verdade, este homem está sempre a querer pôr-me em cheque!

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(1) - Passando em Maio de 1975 pela vila em que me encontrava exercendo a minha profissão e a cerca de trezentos quilómetros de distância de Santarém, onde vivia, não deixou de procurar este seu amigo, que conhecia quase desde que nasceu. Nunca esqueci tal amabilidade e prova de amizade.