sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Lopes Graça


Fernando Lopes Graça, tomarense dos nossos dias, nasceu em 1906 no antigo bairro da judiaria da cidade do Nabão.

Filho dos proprietários de um pequeno hotel, cedo tomou contacto com o piano que fazia parte do seu mobiliário, como era habitual na época.

Aos dezassete anos está matriculado no Conservatório Nacional, em Lisboa, frequentando depois o curso de Ciências Hitórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa.

Apresenta-se como compositor e intérprete, em 1929, com Variações sobre um Tema Popular Português, para piano.

Funda na sua cidade natal o jornal “A Acção”, de carácter politico-regionalista. A seguir, ajuda a fundar a revista “De Música”, onde colabora com textos de índole musical.

Em 1931 termina o Curso Superior de Composição com a mais alta classificação.
Abandona entretanto a Faculdade de Letras de Lisboa, passando a frequentar a de Coimbra e leccionando na Academia de Música.

Integra o grupo libertário “Presença”.

Executa pela primeira vez em Portugal, obras de Hindemith e Schoenberg.

Em 1937 e em Paris, prossegue os estudos em musicologia, composição e orquestração.
Inicia-se entretanto na harmonização de canções populares portuguesas.

Recusando naturalizar-se francês, regressa a Portugal fixando residência em Lisboa e assina a crítica musical de “O Diabo” e “Seara Nova”.

Ganhou vários anos o prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical (1940, 1942, 1944 e 1952).

É convidado mas recusa dirigir a Secção Musical da Emissora Nacional.

Com outras personalidades, funda a Sociedade de Concertos SONATA que representava no país a Sociedade Internacional de Música Contemporânea.

Com vários escritores e poetas, por intermédio da “seara Nova”, de que é secretário da redacção, publica-se um cancioneiro intitulado, “Marchas, Danças e Canções” para grupos vocais e instrumentais populares e que vem a ser apreendido pela polícia política.

Fundo o Coro da Academia de Amadores de Música a mais tarde a “Gazeta Musical”, convidando para director, Luís de Freitas Branco.

Aproveitando o material deixado por Tomás Borba, com quem tinha trabalhado, que revê e amplia, edita um Dicionário de Música, em dois volumes (1956).

De parceria com Michel Giacometti, produz uma Antologia da Música Regional Portuguesa.

Lopes Graça não foi só compositor e musicólogo. A sua intervenção na vida cultural é feita a vários níveis. Foi tradutor, crítico e ensaísta, investigador e harmonizador de música folclórica Portuguesa.

Lopes Graça, segundo especialistas, pode vir a ser considerado o maior compositor português do século XX.

Mas além de tudo isto, Lopes Graça nunca abdicou dos seus ideais políticos e toma posições de oposição ao regime antidemocrático vigente. Sente por isso a acção da polícia e é encarcerado em 1931 na Cadeia do Aljube.

Pelos mesmos motivos é impedido de ocupar uma vaga de professor de piano no Conservatório, para a qual tinha obtido o primeiro lugar.

Concorre e ganha uma bolsa de estudo no estrangeiro e novamente é impedido de leccionar em estabelecimentos oficiais.

A sua acção política, apesar de tanta repressão, não esmorece e em 1945 faz parte do MUD (Movimento de Unidade Democrática).

Já não bastava estar impedido de leccionar em estabelecimentos oficiais para que o então Ministro da Educação Nacional lhe mandasse caçar o diploma de professor de ensino particular.

Só depois do 25 de Abril tem condições para se realizar como compositor e viver a sua actividade criadora e retomar as suas actividades políticas como militante do Partido Comunista Português, tendo enquadrado por várias vezes a lista de candidatos a deputados.

Após o 25 de Abril foi nomeado presidente da Comissão da Reforma do Ensino Musical.
Doutor honoris causa pelo Universidade de Aveiro (1989).

Recebeu várias condecorações, entre elas a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1986) e a Ordem de Mérito Cultural (1988).

O Coro do Círculo Cultural Scalabitano homenageou-o no dia 21 de Novembro de 1981, o que aconteceu em outras terras do país.

O Maestro Lopes Graça faleceu em Novembro de 1994.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro

Dicionário de História do Estado Novo, dir. de Fernando Rosas e J.M. Brandão de Brito
“Morreu o Maestro Lopes Graça, in Correio do Ribatejo de 2 de Dezembro de 1994, Eulália Teigas Marques

Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube