domingo, 7 de novembro de 2010

Humberto Delgado



Humberto da Silva Delgado nasceu no pequeno lugar de Boquilobo, freguesia de
Brogueira, concelho de Torres Novas no dia 15 de Maio de 1906.

Filho de um oficial do exército, cedo optou pela carreira militar, frequentando o Colégio Militar, concluindo o respectivo curso em 1922. Ingressou depois na Escola
Militar, curso que acabo em 1925 e de que foi o 1º classificado.

Ingressa na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas e como alferes, é ferido a tiro ao pretender resistir a uma revolta intentada pela classe de sargentos, apoiada por civis. Participa a seguir e activamente na Revolução(ou Golpe) do 28 de Maio.
Apesar da formação ser em artilharia, acabou por optar pela aeronáutica tendo feito o curso de oficial piloto aviador em 1928.

Em 1929 estabelece o máximo de duração de voo sobre a metrópole - 7 h. e 50 m. em “Breguet B N”, o avião de maior raio de acção existente nessa altura em Portugal.
Em 1936 conclui o curso de Estado - Maior, com distinção e é nomeado Comissário-Adjunto da Mocidade Portuguesa e Adido Militar do Comando Geral da Legião Portuguesa.
Em 25 de Abril de 1938 foi escolhido para o Corpo do Estado Maior, sendo o único oficial aviador que ingressou nesse organismo.

A sua ascensão na carreira militar e política é rápida sendo partidário acérrimo do regime instituído.

Acompanha o Presidente da República, General Fragoso Carmona, na sua visita à África do Sul.

Foi secretário do Ministro da Instrução, tenente-coronel Eduardo da Costa Ferreira.
Durante a Guerra Civil de Espanha, acompanhou uma missão da Legião Portuguesa que foi àquele país a convite do governo espanhol (1939).

Durante este período da sua vida, Humberto Delgado foi condecorado pelo Estado Novo com as medalhas de Valor Militar, Exemplar Comportamento, Mérito Militar e o oficialato da Ordem de Avís publicou vários trabalhos de âmbito militar e político, proferiu conferências da mesma índole e foi colaborador de revistas da mesma área.

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Nos primeiros anos da década de quarenta começam a surgir sinais de mudança na sua orientação política..

É importante o seu papel na concessão de bases aéreas e navais nos Açores ao reino Unido, pelo que lhe foi outorgada a Ordem do Império Britânico.
Em 1944 é nomeado director-geral do Secretariado de Aviação Civil e no ano seguinte funda os Transportes Aéreos Portugueses (TAP).

Vem a ser nomeado, em 1947, delegado português na Organização Internacional da Aviação Civil em Montreal, onde esteve três anos e logo representante português na NATO em Washington (1952-57), contactos que vieram a acelerar a sua abertura ao liberalismo.

Em 1956, o governo americano concedeu-lhe o grau de oficial da Legião de Mérito.
Promovido a general com quarenta e sete anos, é o mais novo oficial daquela patente. Ao regressar a Lisboa em 1957 volta a ocupar o lugar de director-geral da Aviação Civil pois já tinha exercido essas funções em 1943.

Em 1958 apresenta-se como candidato independente às eleições presidenciais, parece que por sugestão do capitão Henrique Galvão que visita na prisão política de Peniche.
A sua candidatura suscitou muita desconfiança nos sectores da oposição visto todo o seu passado ser de ligação ao regime instituído.

Aparecem outros candidatos com currículos antifascistas que oferecem outras garantias mas a candidatura do General Sem Medo começa a crescer a um ritmo surpreendente.

Ficou célebre e é inapagável a resposta que deu a um jornalista que lhe perguntou, numa conferência de imprensa dada no Café Chave d’Ouro em Lisboa, o que faria a Salazar no caso de ser eleito, respondendo :- Obviamente demito-o. Esta resposta fez crescer ainda mais o apoio popular que se manifestava por todo o País.

Arlindo Vicente retirou a sua candidatura e ofereceu o seu apoio a Humberto Delgado que, apesar de todas as contrariedades leva a sua candidatura até ao fim, vindo a ser “eleito” o candidato salazarista, Almirante Américo Tomás
Contudo, Humberto Delgado ganhou as eleições, pelo menos nos concelhos de Alpiarça, com 83% dos votos, Almeirim (77,9%), Alcanena (72,4%), Cartaxo (68%), Santarém (53,4%) e Rio Maior com 51,2%).

Delgado não ganhou nem podia ganhar eleições viciadas a favor do regime, mas deu-lhe forte abanão que obrigou à alteração da constituição, passando o Presidente da República a ser eleito indirectamente através de um colégio eleitoral constituído pelos deputados da Assembleia Nacional e outros do mesmo tipo.
A perseguição ao General Sem Medo é rápida. Três dias depois das eleições é demitido de director geral da Aviação Civil, sendo privado de todos os seus cargos e privilégios oficiais.

Em Janeiro de 1959 vê-se obrigado a pedir asilo político na Embaixada do Brasil em Lisboa e onde esteve durante três meses, findos os quais e depois de aturadas negociações Salazar autorizou a sua saída do País., exilando-se no Brasil onde continuou a sua luta política no sentido de fazer voltar a democracia ao seu País.
Patrocina o ataque ao paquete Santa Maria em 1961. Rompe com Henrique Galvão e passa por Marrocos, entrando em Portugal clandestinamente para participar no levantamento de Beja. Entra na Frente Patriótica da Libertação mas depressa se afasta pois corta relações com a maioria dos seus membros. Cria entretanto um novo movimento, a Frente Portuguesa de Libertação Nacional.

Humberto Delgado acaba por cair numa armadilha montada pela PIDE, entrando em Espanha acreditou que ia encontrar-se na fronteira com oficiais do exército português dispostos a derrubar pelas armas o regime. Acaba por ser assassinado em Villanueva del Fresno, perto de Badajoz por um destacamento da PIDE (Fevereiro de 1965).

Estava calado o Homem que mais incomodou o regime !

Após o 25 de Abril foi feito Marechal e os seus restos mortais transladados para o Panteão Nacional.

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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Dicionário de História de Portugal - Vol. VII - Suplemento A/E - António Barreto e Maria Filomena Mónica (Coordenadores) - Livraria Figueirinhas - Porto - 1999

Dicionário de História do Estado Novo - Vol. I -
Fernando Rosas e J-M. Brandão de Brito (Direcção de) - Bertrand Editora - 1996

Jornal “O Ribatejo” de 26 de Fevereiro de 1998