quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SANTARÉM ILUSTRADA é publicado após 273 anos de espera!



Foi no dia 19 de Novembro último que me desloquei propositadamente a Santarém para assistir ao lançamento desta interessante monografia e poder adquiri-la a qual teve de esperar 273 anos para vir a público.

Passaram pelo poder local dezenas e dezenas de vereações de todos os quadrantes políticos que se possam imaginar e tem de ser uma simples Junta de Freguesia (de Marvila) a fazê-lo, o que parece inacreditável!

Presto aqui a minha simples homenagem à Junta de Freguesia na pessoa do seu Presidente, Carlos António Marçal.

O autor da obra é Luís Montês Matoso um escalabitano nascido na Freguesia de S. Nicolau em 1701 tendo falecido em 1750.

Neste espaço publiquei uma pequenina nota biográfica sobre ele e que já tinha sido publicada no semanário “Correio do Ribatejo”.

Pela década de 50 do século passado e por sugestão do Dr. José Henriques Barata foi dado o seu nome a uma nova rua no “Bairro dos Combatentes”, mas erradamente indicam-no como escultor e não escritor, erro que penso se mantém.


O erro persiste apesar de algumas dezenas de anos passados e era bom que fosse devidamente corrigido por quem de direito.

Brinquei muito por esta rua cujo nome fixei e que mais tarde procurei saber de quem se tratava.

O estudo mais completo que então conheci foi o efectuado pelo saudoso escalabitano, Dr. Virgílio Arruda, numa separata da Academia Portuguesa da História, Luís Montês Matoso, Historiador e Jornalista (uma vida por conhecer e uma obra por publicar), Lisboa, MCMLXXX.

Mais tarde a minha curiosidade levou-me a consultar na Biblioteca Municipal de Santarém a cópia (1940) do original que se encontra na Biblioteca de Évora, até por que tinha em mãos um trabalho que acabei por publicar. Nele cito Luís Matoso. A pesquisa só tinha a ver com aquele assunto, mas apercebi-me do grande valor do trabalho. Se vivesse em Santarém já o teria lido mas assim tudo se tornava mais difícil.

Com a edição do trabalho que estou lendo pausadamente, capítulo a capítulo, sei hoje onde muitos autores foram buscar as preciosas informações que Santarém Ilustrada fornece. Acabo por encontrar respostas a muitas dúvidas que ao longo dos anos me iam surgindo quando pensava em vários aspectos da história de Santarém.

A transcrição do texto e estudo introdutório é do Professor Doutor Martinho Vicente Rodrigues que teve a amabilidade de me autografar o exemplar que adquiri.

A Edição, como já disse pertenceu à Junta de Freguesia de Marvila (Santarém) que assim deixa o seu nome ligado a este valioso trabalho.

De formato de 21X30 tem 640 páginas de bom papel. Adequadas e variadas ilustrações a preto e branco. Encadernação industrial.

Preço muito acessível e numa tiragem de 500 exemplares.

O evento teve lugar no Santuário do Santíssimo Milagre (Igreja de Santo Estêvão) que se encontrava repleto.

Prestou a sua colaboração o Coro do Círculo Cultural Scalabitano interpretando com rigor adequadas obras.

Usaram da palavra vários oradores, nomeadamente, o Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Marvila, o representante da Câmara Municipal, o Reitor do Santuário, e como não podia deixar de ser o Professor Doutor Martinho Vicente Rodrigues.


REPORTAGEM FOTOGRÁFICA



[O Presidente da Junta de Freguesia de Marvila usando da palavra]



[O Professor Doutor Martinho Vicente Rodrigues]


[Actuação do Coro do Círculo Cultural Scalabitano]


[Exposição do Santíssimo Milagre]

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Quatro Monumentos de Santarém



(Guarita das antigas Muralhas, Torre das Cabaças, Igreja de S. João de Alporão, e fachada principal de Igreja da Graça)

Trata-se de um dos cinco desenhos com que C. Alberto da Silva ilustrou o trabalho de Zephyrino N. G. Brandão a que deu o título de MONUMENTOS E LENDAS DE SANTARÉM. Editado em Lisboa – David Corazzi, Editor em 1883 (pág. 519)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A voltinha dos tristes

Falar de Santarém de há 55 ou 60 anos tem grandes diferenças de Santarém de hoje, ainda que eu esteja afastado dela vai para 45 anos.

As visitas são muito espaçadas e breves. Só não me perco na parte nova porque tenho algum sentido de orientação pois existem locais que desconheço completamente, conheci bem muitos deles quando eram olivais e terras de semeadura.

Naturalmente a parte que procuro mais é a que tem a ver com as minhas vivências e os meus afectos, aquela onde vivi, que conheci bem incluindo grande maioria das pessoas que lá viviam. Quase que me apetece dizer como o meu pai dizia nos seus últimos anos de vida: “Hoje já não conheço ninguém e no meu tempo (queria referir-se à sua juventude) conhecia toda a gente e toda a gente me conhecia.”

Comigo já não foi bem assim mas foi muito diferente do que é hoje.

A cidade, como nós dizíamos sem o perceber bem, era a antiga urbe, a parte medieval que se situava dentro das muralhas que a protegiam e de que já poucos vestígios restavam. Era lá que fervilhava o comércio em ruas, becos e travessas, onde a rua dos Correios e do Central faziam a diferença pela sua largura, alinhamento de construções e tipo de serviços.

Os edifícios dos antigos conventos situavam-se na periferia tal como alguns palacetes.

Era nova então a zona luxuosa de vivendas no planalto de S. Bento, onde tinha sido construído o Liceu Sá da Bandeira. Dos beneditinos penso que ainda resta a cisterna.

O Bairro dos Combatentes era outra zona nova e em construção, mas para gente mais modesta.

O próprio Bairro do Pereiro, ainda que dentro do perímetro que foi amuralhado, ficava um pouco distante e foi lá que se construiu no século XIX o cemitério que ainda serve a cidade e que conheci pela quarta parte do que é hoje.

Campo Fora de Vila, Rafoa, Monte Cravo, Calçada do Monte e Estrada de S. Domingos era tudo considerado arrabaldes. Quem destes locais se deslocasse à parte velha do burgo, dizia que ia à cidade, o resto sendo-o, não o era na linguagem quotidiana.

Mas esta croniqueta tem por título a VOLTINHA DOS TRISTES como os jovens de então lhe chamavam.

Ao domingo era dia de ir à cidade para quem vivia na periferia. Vestia-se uma roupinha melhor e lá se ia em pequenos grupos saber os resultados da bola, postos pouco depois dos desafios terminados, no Placard do jornal diário O Século no stand do Leitão.

[Casa Hipólito]

Eram ali colocadas várias notícias entre as quais os falecimentos.

Após o conhecimento dos resultados, íamos dar uma volta, a voltinha dos tristes, percorrendo a Rua de S. Nicolau em direcção ao Canto da Cruz. Tínhamos à direita o Café Portugal e a seguir a Barbearia de José de Oliveira que também vendia telefonias, Telefunkein, se não estou em erro. Do lado esquerdo a Casa Nobre, que penso ainda existir e era uma grande casa comercial da cidade no campo dos tecidos, logo a seguir o consultório do médico Dr. Ramiro Nobre, figura bem carismática da cidade pelo seu profissionalismo e dirigente desportivo.

[Barbearia José de Oliveira]
Do lado oposto e onde se encontra um pequeno painel de azulejos, lembra-me o que nunca me esqueci, um acidente que ali ocorreu e ceifou a vida a um jovem. Isto aconteceu há sessenta e tal anos!

A Capela de S. Pedro, anexa à Igreja de S. Nicolau e que naturalmente lá continua, com o túmulo do arganilense Fernão Roiz Redondo e de sua mulher Marinha Afonso (Séc. XIV.

Depois, uma travessa à direita, em cuja esquina se veio instalar já nos meus dias a Costa Modas, com grande montra virada para a rua principal, na altura um estabelecimento moderno e muito para a frente. No início desta travessa, situou-se a Tipografia Tejo, onde mais tarde se fixou a firma António Eloy Godinho & Irmão, Lda, especializada em veículos de duas rodas, a pedal ou motorizados.

[Rua de S. Nicolau]

No seguimento da Costa Modas , a sede dos “Caixeiros”, como se chamava ao Grupo Desportivo Empregados no Comércio, com salão onde se realizavam grandes bailes e grandes partidas de ténis de mesa, em que a sua equipa pontificava. Lembro-me de grandes jogadores como Beja, Neto, Trindade (Zeca) e mais tarde o António que foi meu colega na escola primária e no liceu e o Minderico.

Ao chegar ao “Canto da Cruz” e no “canto” da esquerda, o grande estabelecimento de mercearia fina, Artur Lopes dos Santos, que era na verdade um grande estabelecimento naquele tipo de comércio.

[Ao Canto da Cruz]

Tomava-se a rua da esquerda, ou seja, a da Misericórdia. Menos comercial do que a anterior, imperava do lado esquerdo a Igreja da Misericórdia e uma maravilhosa janela de canto. Logo a seguir, um estabelecimento de fazendas e no lado oposto o escritório da advogado e político,Dr. Artur Proença Duarte, que foi muitos anos deputado na Assembleia Nacional e Presidente da Junta de Província do Ribatejo.

[Janela de canto]
Mais uma igreja e das mais importantes das muitas existentes na cidade – a Igreja de Marvila, antiga Nª Sª das Maravilhas. No largo que lhe fica contíguo, os grandes Armazéns do “Cabralão”.

Vai-se dar ao “Terreirinho das Flores”, que num dos vértices em cujo um dos vértices sempre me lembro existir uma taberna, mais tarde transformada em snack-bar. Nesse pequeno largo toma-se a Rua Direita (das Portas de Leiria) e frente ao Largo de Marvila, o velho edifício onde durante séculos funcionou o poder administrativo local e de que me lembro muito bem. Aqui que foi aclamado rei de Portugal D. João IV.

É revestido de azulejos, penso que seiscentistas. Funcionava igualmente a corporação de Bombeiros Municipais.

[Antigos Paços do Concelho]

Esta comercial via, torta porque é medieval (direita por ir em direcção a, neste caso, Porta de Leiria) e por onde se vão encontrando becos, situava-se, não sei se ainda existe, a Electrodinâmica e no lado oposto a Casa Ruivo, importante estabelecimento de ferragens. Era e penso que ainda é uma via inteiramente comercial, mas hoje em franca decadência, pois além dos andares superiores serem habitados, o que hoje só excepcionalmente acontece pelos mais variados motivos, estando em muitos casos em franca degradação, a população habita nas áreas novas e circunvizinhas onde tudo já existe.

Percorrer a velha cidade pelas 22 ou 23 horas significa, excepcionalmente, encontrar alguém e o que poderá ser não muito agradável, encontrando todos os estabelecimentos comerciais fechados, e isto vai acontecendo igualmente noutras zonas da cidade.

O perigo cada vez ronda mais perto!

Chegados ao entroncamento com a “nova” rua Guilherme de Azevedo, e onde se encontra agora o seu monumento, que esteve, inicialmente, à entrada no Jardim das Portas do Sol, havia uma pequena tabacaria. Numa esquina, uma velha barbearia e na outra o Abidis Hotel.

No lado direito, uma conhecida ourivesaria e logo a seguir o “velho” e centenário CORREIO DO RIBATEJO, em lugar onde sempre o conhecemos. Recordo o Dr. Virgílio Arruda, baixo, forte, com os seus óculos muito graduados e sempre uma figura muito simpática, após o seu falecimento, o não menos simpático Bernardo de Figueiredo que o substituiu na direcção do semanário.

A seguir à Adidis, uma engraxadoria com uma série de cadeiras e outra das mercearias finas da cidade, a Mercearia Ribeiro. Pouco depois e do mesmo lado, a ainda existente Espingardaria, na altura, única na cidade e uma casa de Ferragens, que penso ainda existir mas naturalmente com outra gerência.

A centenária Sociedade Operária no velho palácio que a tradição aponta como local de nascimento de Frei Luís de Sousa.



O Largo do Padre Chiquito aparecido no local onde se edificou a Igreja do Salvador sendo aí baptizado o benquisto Marquês de Sá da Bandeira e onde funcionou durante muitos anos a praça de automóveis de aluguer. O nosso avô paterno recebeu o sacramento do baptismo nessa igreja paroquial e ministro por aquele que veio a ser o 1º Bispo de Damão.

Seguindo, encontra-se à direita a Livraria Escolar que ainda vai resistindo à voragem dos tempos, do lado oposto e à esquina, situava-se a importante Livraria e Tipografia Silva hoje desaparecida.

Entra-se assim no Largo do Seminário, na verdade, Praça Marquês Sá da Bandeira onde em finais dos anos 20 do século passado foi erguido o monumento que o recorda.

Os antigos Paços Reais, depois Seminário, Liceu e hoje Sé do Bispado impõe-se pela sua monumentalidade.

Sempre conhecemos no espaço o consultório do recordado oftalmologista Dr. Isabelinha, falecido com mais de um século, figura muito querida na cidade e hoje ocupado por seu filho, Dr. Duarte Gonçalves (Isabelinha).

Naquele largo situava-se um dos três cafés de Santarém, o “Café Brasileira“ muito procurado negociantes. Pensamos que ainda existe a Farmácia Flamea Vitae.

Encostados à Capela da Piedade onde tinham instalado as suas cadeiras, trabalhavam uns tantos engraxadores de sapatos.

Lembramo-me da existência de uma casa de pasto, local de paragem das “camionetas de carreira” e ao lado uma oficina de bicicletas.

Na casa apalaçada onde nasceu o Marquês Sá da Bandeira, viveu durante muitos anos o Dr. Virgílio Arruda. Ambos os factos estão assinalados por placas alusivas.


[Casa apalaçada onde nasceu Sá da Bandeira]

À esquina, a ainda existente, segundo penso, Pastelaria “Bijou”. Avançando pela Rua de S. Nicolau, a casa Conde onde se vendiam cestos de toda a espécie e aí ia comprar os meus berlindes com que o meu filho ainda brincou.

[Rua de S. Nicolau. Outro aspecto]

Mais casas comerciais de um lado e do outro, casas de solas e cabedais, pastelarias e a sede do extinto Sport Grupo União Operária. O pátio da Caravana, a Travessa do Postigo onde funcionou a Camionagem Ribatejana e ao fundo o Vieira dos Frangos.

A alfaiataria “Cravador”, velho orfeonista do Orfeão Scalabitano e mais tarde do Coro Alfredo Keil.

O ainda existente Posto de Turismo onde me lembro de estar em exposição a 2ª Edição de Santarém História e Arte, de Joaquim Veríssimo Serrão e ilustração de Braz Ruivo, dois escalabitanos que me habituei a admirar.

[Santarém. Coração da cidade]

Não tinha dinheiro para adquirir o trabalho, mas hoje faz parte dos meus livros,pois consegui encontrá-lo num alfarrabista.

Acabei de chegar ao ponto de onde parti, à esquina da Farmácia..

A VOLTINHA DOS TRISTES FOI EFECTUADA.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Coreto do Jardim da República - Como era e como é!



Como era.



E como é!

Apesar de afastado da cidade há muitos anos, sei que a eliminação do lago que circundava o coreto causou engulhos a muita gente e na qual me incluo.

Admito que poderão haver razões plausíveis para a transformação mas a verdade é que aquilo para mim já não me diz nada e procuro passar bem ao lado nas poucas vezes que me desloco à cidade.

Se a memória não falha a um septuagenário, sempre me lembro de existir o coreto onde actuava com alguma frequência a extinta Banda dos Bombeiros e outras, principalmente nos dias cálidos de Verão, quando o jardim era vedado e as pessoas se amontoavam, pois os bancos com pés de ferro forjado, que tinham como acento e costas ripas grossas de madeira pintadas de vermelho eram muito poucos para tantas pessoas que por ali passeavam.

O Jardim da República, antigo Passeio da Rainha, quando esta se encontrava nos seus Paços e que foi depois Seminário, tinha três entradas com largos portões de ferro e penso que fechava à meia-noite, pelo menos no Verão.

Lembro-me bem, apesar da minha pouca idade, de dois lagos grandes, talvez melhor dizendo, dois espelhos de água que tinham pouca altura, de forma rectangular com pequenas alterações geométricas nos vértices e um repuxo ao meio e que foram anulados sendo transformados em canteiros. Situavam-se para os lados do portão que abria para a estrada e Escadinhas da Fonte das Figueiras onde no século XIX existiu uma afamada casa de hóspedes ou pensão. Era também junto a esse portão que existiam os sanitários subterrâneos do jardim.

Penso que o lago circundando o coreto deveria ter sido feito entre 1945/50 (estou a escrever de memória sem fazer qualquer consulta) e era algo que eu gostava de ver. Quando passava próximo pela mão do meu pai, pedia sempre a visita ao lago o que o meu pai nunca negou, algumas vezes não muito satisfeito pelo tempo que roubava aos seus afazeres.

Era uma alegria para mim poder ver os peixinhos vermelhos em cardume que eu adorava e não me importaria de estar ali horas a vê-los passar e a ouvir os repuxos que interiormente corriam junto das pedras esburacadas que se foram buscar longe para lá colocar.

Com o decorrer dos anos, quando por ali passava, não deixava de dar uma olhadela e verificar a pouco e pouco a degradação se ia acentuando, primeiro desapareceram os cisnes, depois os peixes e por fim o próprio lago.

Aquele lago impressionou-me tanto que no decorrer da minha vida acabei por construir três, o primeiro ainda uma criança e que para o efeito fui amealhando os tostões que me davam para comprar cimento, o segundo já homem feito e o último quando o ocaso da vida começou a aparecer esse ainda o possuo e cuja construção foi inspirada no lago do Jardim da República.

A minha neta só o viu uma vez mas está sempre a perguntar-me se os peixinhos não morreram e se já nasceram mais.

Talvez lhe tivesse transmitido esse gosto.

Hoje, o coreto para mim, só de longe!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Escola dos Combatentes - 4ª classe do ano 1948/49. Prof. Agnelo da Silva Lázaro



TENTATIVA DE IDENTIFICAÇÃO
(1) – Braga, (2) Hernâni, (3) Adelino, (4) Bretes, (5) Joãozinho, (6) Neto, (7) Lázaro, (8) Carlos, (9) Cadima, (10) João, (11) Pacheco, (12) Mário Leal, (13) Óscar, (14) N.N. das Ómnias, (15) Neves Trindade, (16) António Miguel, (17) Virgílio Cardoso, (18) José Torgal, (19) Minderico, (20) Vicente, (21) Capelo, (22) Serralha, (23) Orlando, (24) Júlio Leal, (25) Vale, (26) Carlos Mariano, (27) Emídio, (28) Cascalheira, (29) Gaivoto, (30) Francisco, (31) NN, (32) NN, (33) Lúcio, (24) F. Trindade, (35) José, (36) Romão, (37) Renato, (38) Vítor Vasconcelos, (39) Júlio Cruz, (40) Silas, (41) Pedro, (42) Faustino, (43) Rui, (44) Joaquim José.

E a figura magistral do professor Agnelo (vulgo Bintóito entre os alunos e não só devido à sua pronúncia de origem) que neste ano teve pelo menos 46 anos visto na fotografia e que eu me lembre, faltam o Rogério Soares e o José Joaquim, irmão gémeo do (44) Joaquim José.

Que eu saiba, já não estão entre nós seis mas possivelmente serão mais pois grande parte nunca mais vi e desconheço o seu percurso.

O professor Agnelo, natural de Celorico da Beira era uma grande figura pela sua estatura mas principalmente pelo seu porte. Trabalhador incansável, pelas suas mãos passaram gerações de escalabitanos que penso nunca o terão esquecido pela educação e conhecimentos que a todos ministrou. Além disso era um democrata nunca se enfeudando ao regime vigente.

Após a aposentação regressou ao seu concelho de origem.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Na Associação Académica de Santarém foi inaugurada uma Sala de Leitura

Pequena nota
Na pequena nota biográfica que o autor deste blogue apresenta, diz-se que na sua juventude fez parte da redacção do Jornal Mural da Associação Académica de Santarém (…)
Dando voltas procurando determinado apontamento, veio-me parar às mãos este recorte do há muito desaparecido Jornal do Ribatejo, datado de 6 de Agosto de 1959, por isso com 52 anos de existência e no qual se faz referência ao Jornal Mural e à inauguração de uma nova sala de leitura que recebeu o nome Professor Joaquim Veríssimo Serrão.Lembro-me perfeitamente do acontecimento e até do breve diálogo com o ILUSTRÍSSIMO SANTARENO que identificou com rapidez a minha família tanto paterna, como materna.

Significa isto que eu pelo menos há 52 anos já andava metido nas coisas de escrevinhar.

Pouco depois tive de interromper a minha colaboração visto ter dado início à minha vida profissional e numa terra distante.Foi com alguma emoção que reli as palavras que J.M. escreveu e resolvi partilhá-las com os meus visitantes/leitores.


JV




Na passada semana, na sede da Associação Académica de Santarém, numa festa de carácter íntimo mas de muito significado, foi inaugurada a Sala Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, antigo Presidente da Direcção daquele prestigiosa colectividade e actual leitor de português da Universidade de Toulouse, em França.

Tal iniciativa deve-se à Direcção do “Jornal Mural da A.A.S.” a que preside o académico Joaquim da Silva Ramalho que tem como principais colaboradores, Vítor Carvalho e Ascenção Nunes. Este jornal de parede que há quase um ano aparece semanalmente, inclui secções de arte, literatura, poesia, desporto, humorismo, biografia, teatro, etc.

Ao acto assistiram, além do corpo redactorial do semanário, o Presidente da A.A.S., Sr. Joaquim Graça, os Vice-Presidentes, Srs. Carlos Perdigão e Carlos Ribeiro, o Tesoureiro, Sr. Guilherme Ferreira, Sr. José de Freitas pela Secção Cultural e muitos académicos da velha e nova geração.

O Sr. Joaquim Ramalho dirigiu ao Sr. Dr. Serrão palavras de reconhecimento pela honra que deu aos novos daquela casa em aceitar o seu convite e afirmou o propósito de todos aqueles que trabalharem naquela sala, em honrar o nome de tão grande scalabitano e ilustre académico. Agradece ainda o apoio incondicional que a Direcção da A.A. tem dispensado a todas as suas iniciativas, depois do que convida o Dr. Veríssimo Serão a descerrar a lápide comemorativa.

O homenageado dirigiu em seguida palavras de sincero agradecimento aos promotores daquela festa, afirmando-lhes que, o facto de juntar o seu nome àquela actividade cultural, o comovia profundamente. Considero tal iniciativa, disse, “um acto de amizade e de traição amiga, pois só a amizade justifica ser o meu nome alguma coisa que possa servir de estímulo aos vossos propósitos”. Afirmou em seguida poderem os rapazes do jornal, contar, de futuro, com a sua ajuda e o seu conselho amigo e deu algumas sugestões para números seguintes. Disse que era necessário transcender as funções iniciais do Jornal Mural, de molde a procurar que ele chegasse às mãos de todos os sócios, da cidade, como elemento informativo e de primordial importância para a actividade cultural da Associação Académica.

Encerrou a sessão o Sr. Joaquim Graça, Presidente da Direcção, que se congratulou com o significado daquela interessante festa, cuja iniciativa desconhecia até há pouco mas a que logo deu imediato aprovo, verifica com prazer, que aquele grupo de jovens estudantes, ao escolherem o nome do Dr. Veríssimo Serrão para padrinho daquela Sala, mostraram, de maneira bastante evidente, o inegável amor pela Associação, por Santarém e pelos seus mais ilustres filhos. Ele e a Direcção ali presente estariam sempre dispostos a secundar com o maior interesse todas as iniciativas que se destinassem igualmente a valorizar, por qualquer forma, as tradições culturais ou artísticas daquela colectividade académica.

J. M.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Martim de Ocem



Era filho mais velho do Dr. Gil de Ocem, chanceler-mor do Reino, que foi como embaixador a Castela, em 1371 para confirmação das pazes feitas entre D Henrique II de Castela e D. Fernando I de Portugal e de D. Brites Anes Nogueira.

O nome de família aparece designado por Ocem, Docem ou d
o Sem, pelo menos foram estes que encontrámos.

Veio a casar com D. Maria da Cunha, filha de Gil Vasques da Cunha, Alferes-mor do Reino e de D. Joana (ou Isabel) Pereira.

Doutor em Leis, do Conselho de D. João I e seu chanceler-mor e igualmente do Conselho do infante D. Duarte, seu filho, e governador da sua casa.

Tomou parte na conquista de Ceuta e sendo então armado cavaleiro.

Era considerado pelo rei D. João I pessoa de muito saber e por isso muito estimado e encarregado de missões diplomáticas importantes.

Foi enviado em 1400 como embaixador a Henrique de Castela, a fim de cimentar as pazes entre os dois reinos. Devido a dificuldades surgidas nas negociações e em que D. Henrique era representado pelo Cardeal de Avinhão, vem a Lisboa para receber conselhos, acertar detalhes e concluir as negociações que vieram a ter lugar em Segóvia tendo originado tréguas por um período de 10 anos.

Em 1404 D. João I envia-o novamente como seu embaixador a Londres para ratificar a aliança com Henrique IV que tinha sucedido a Ricardo II de que se saiu com êxito.

Volta a Inglaterra no ano seguinte para tratar do casamento de D. Brites, filha bastarda de D. João I, com D. Tomás, Conde de Arundel, o que se veio a firmar em 7 de Fevereiro daquele ano.

É enviado por várias vezes como embaixador a Castela no sentido de tratar novamente de pazes que vieram a ter lugar mais tarde.

Martim de Ocem assiste em Coimbra, a 4 de Novembro de 1428, como testemunha, ao casamento do Príncipe D. Duarte, depois rei de Portugal e de D. Leonor de Aragão.

Testemunhou em primeiro lugar no documento que se passou dos desposórios da infanta D. Isabel, irmã de D. Duarte, com Filipe, duque de Borgonha, por seus procuradores, em Lisboa no ano de1429.

D. João I contemplou-o no seu testamento com várias mercês devido aos valiosos serviços prestados.



João de Ocem, seu sobrinho, filho de sua irmã D. Isabel de Ocem e de Álvaro Fernandes de Almeida, alcaide-mor de Torres Novas, tomou este apelido pelo morgado que herdou de seu tio falecido em 27 de Fevereiro de 1431 e foi sepultado na igreja do convento de S. Domingos, em Santarém e na capela de S. Pedro, que se situava à esquerda da capela-mor. Também aqui se encontravam os túmulos de seu pai, Gil de Ocem e de seu sobrinho, João de Ocem.

[Desaparecida Igreja do Convento de S. Domingos, em Santarém]

Com a demolição da Igreja por volta de meados dos anos 70 do século XIX, os três túmulos foram colocados na Igreja da Piedade e foram expostos no Museu de São João de Alporão em 1889, onde ainda se encontram. A divisa dos Ocem era faze, teu dever
e que se encontra esculpida em caracteres góticos na arca tumular jacente do Dr. Martim de Ocem..

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Portugal – Dicionário Histórico (...) Ed. em papel de João Romano Torres, 1900-1915 – Ed. electrónica de Manuel Amaral, 2000 – 2010.

Santarém – Princesa das Nossas Vilas, A. Areosa Feio, Editor: J. Cardoso da Silva, Santarém, MCMXXIX

Santarém – História e Arte, Joaquim Veríssimo Serrão, 2ª Edição, 1959

História e Monumentos de Santarém, Zeferino Sarmento, 1993

S. João de Alporão – Na História, Arte e Museologia, Edição da Câmara Municipal de Santarém, 1994

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Pezinhos de carneiro



Enquanto uns lhe chamam pezinhos de carneiro outros optam por designá-los por mãozinhas de borrego, o que vai tudo dar ao mesmo e constituem as partes dos ovinos que assentam no chão para se movimentarem.

No nosso país, estes animais é no Alentejo onde mais abundam sendo a sua carne muito apreciada em vários pratos sendo talvez o mais conhecido o “ensopado de borrego”.

Há quem muito aprecie cabeças de carneiro assadas no forno. O carneiro ou borrego foi sempre muito utilizado na confecção de pratos de casamento quando este tinha lugar tinha lugar na casa dos pais dos nubentes e quase sempre guisado com batatas.

São muito conhecidos e apreciados os pezinhos de coentrada que aparecem na cozinha alentejana.

Habituei-me desde criança a comer pezinhos guisados com feijão branco, é um dos pratos que mais aprecio e que nunca encontrei na restauração.

Na minha passagem pela Beira-Alta, ninguém conhecia ou admitia que tal se comesse e na serra algarvia, ainda que os comessem não confeccionados assim e isso compreende-se porquê, a quase impossibilidade de se juntar tanto pé.

Em Santarém todos os talhos existentes no mercado municipal estavam abastecidos de tais peças pois eram muito procuradas.

Hoje, vivendo numa cidade do Oeste, nenhum talho vende tal coisa, contudo, “descobri” numa cidade próxima aonde me desloco com frequência, um único talho, que vende tal iguaria e onde me abasteço sempre que lá vou.

Ainda que os cozinhe com batatas novas e ervilhas, prefiro-os com feijão branco. Os pés vêm previamente arranjados e constitui um trabalho moroso que tem de se pagar.

É um prato fácil de confeccionar.

Após um refogado normal com cebola, alho, salsa, louro, em azeite, e a que se juntou tomate e cenoura às rodelas, dá-se uma primeira cozedura aos pés na panela de pressão, ou seja, ficam “entalados”.

Acrescenta-se ao refogado um pouco de água onde foram cozidos os pés e em lume brando os pezinhos ficam a guisar. O feijão mete-se na panela de pressão até esta apitar.

Junta-se depois aos pezinhos não esquecendo de acrescentar um pouco de água onde o feijão esteve a cozer.

Fica a apurar em lume brando.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Recepção aos caloiros no Liceu de Santarém em meados do século passado



No meu tempo de liceu as aulas iniciavam-se no dia 1 de Outubro com uma sessão solene realizada no ginásio e onde eram distinguidos os melhores alunos do ano anterior.

Nesse tempo a grande maioria dos alunos trajava de capa e batina, principalmente a partir do 3º ano que era oficialmente a farda do liceu e só os seus alunos se podiam apresentar nos exames assim trajados.



Ouvi sempre dizer que isto fazia parte de um privilégio concedido aos alunos nos primórdios da sua instituição, o que não posso confirmar por falta de elementos nesse sentido.

Durante os três meses de férias, como então acontecia, a maioria dos alunos deixava de se ver, pois residia em terras diferentes e algumas a distâncias consideráveis. Davam-se então manifestações de júbilo com o exagero próprio da idade.

Nessa altura só havia um liceu na capital do distrito e alguns colégios nas cidades e numa ou outra vila de maior dimensão sendo muito conhecido o Colégio Nuno `Alvares de Tomar. Quem queria estudar tinha que vir a Santarém ou hospedar-se na cidade.



De Almeirim e do seu concelho vinham muitos de bicicleta a pedal enquanto outros utilizavam os transportes públicos, principalmente os da Camionagem Ribatejana. Da vila de Pernes havia um automóvel que tinha não sei quantos lugares e vinha cheio.

O perfil do motorista e do veículo ainda se mantém na minha retina apesar dos nomes terem passado.

Do Entroncamento vinham diariamente os filhos dos funcionários dos Caminhos de Ferro que tinham regalias no transporte.

Já andava no liceu quando apareceu a Escola Comercial e Industrial que começou a funcionar precariamente nos antigos Paços do Concelho que durante séculos funcionaram na popularmente chamada Praça Velha.



Existia também o Externato Braamcamp Freire para rapazes e o Colégio Andaluz para as meninas.

No” Galinheiro”, situava-se a afamada Escola de Regentes Agrícolas.

Era este o cenário dos estabelecimentos de ensino da cidade.

Na altura o número de alunos no liceu não ultrapassaria os 500.

***

Previamente trazidos pelos “veteranos” mais entusiastas encontravam-se nas proximidades do liceu a mais variada traquitana em que se incluía os penicos, latas e latões, cornos de carneiros e o mais que se podia recolher. Não faltavam as rolhas de cortiça previamente queimadas (nessa altura não havia dinheiro para comprar batons).

Antes de terminar a sessão solene, um grupo de veteranos formava cordão para fazer caça à caloirada. Nessa altura ninguém ia de automóvel e eram bem poucos os professores que o faziam já que a grande maioria, se deslocava a pé, incluindo o Senhor Reitor, Dr. Ruy da Silva Leitão, que residia na Ribeira de Santarém.



Lá se iam mascarando os mais pequenos, enfiavam-se os penicos na cabeça, viravam-se os casacos e transportavam cartazes com algumas piadas onde não escapavam, muito ao de leve as políticas.

Considerados caloiros eram todos os que frequentavam pela primeira vez o liceu e assim entravam alguns no sexto ano e que constituíam os matulões que passavam pela mesma praxe e eram alvo especial dos veteranos.

No meu tempo não me lembro de haver grandes confusões, a não ser com um que procurou resistir e ficou-lhe para sempre a designação de “caloiro”.



Quando encontro algum antigo colega do liceu e se abordam conversas deste tipo é sabido falar-se no caloiro pois pelo menos eu não me lembro do seu nome. Foi assim que vim a saber que se tinha licenciado em farmácia e possuía um laboratório em determinada cidade.

As brincadeiras que existiam não tinham nada de vexatório e eram aceites pela rapaziada.

O cortejo seguia em fila indiana para a cidade passando pelo Largo do Seminário e fazendo aquilo que na altura era conhecido pela voltinha dos tristes, isto é, Rua de S. Nicolau, ao Canto da Cruz virava-se à esquerda, passava-se ao Terreirinho das Flores depois seguia-se para a Praça Velha tomando a direcção da Rua Direita, passava-se junto ao Largo do Padre Chiquito, então praça de automóveis e regressava-se ao Largo do Seminário. Na escadaria do Seminário (actual Sé) ia funcionar o Tribunal julgando os “crimes” cometidos pelos caloiros. Não se deixava de tirar uma fotografia junto à porta do primitivo liceu que funcionou nessas instalações.



Quando aparecia uma máquina fotográfica, tipo caixote, era muito bom e era dali que alguns, com alguma dificuldade, obtinham as suas cópias, como as que apresento.

Junto ao monumento do Marquês juntava-se a assistência, nomeadamente feminina e constituída por alunas do liceu.

Os advogados de “defesa” e de “acusação” debatiam-se apresentando variada e cáustica argumentação utilizando pelo meio um ou outro termo técnico que os profissionais utilizavam.

É claro que isto dava origem a risadas e galhofas a que o meritíssimo juiz procurava pôr cobro com o clássico “mando evacuar a sala”.



Para o fim, o advogado de defesa já atacava mais do que o de acusação e quase que os papéis se invertiam!

Depois de grande retórica do juiz, lá vinha por fim a sentença que nalguns casos era a declaração de amor feita a determinada pessoa presente na assistência e efectuada sempre de joelhos. É claro que isto era destinado aos matulões, já que os putos que tinham que estar presentes, funcionavam como decoração do ambiente.

Um ou outro caso, mais complicado e depois de” recurso”, era julgado no pequeno ringue da sede da Associação Académica de Santarém, nesse dia, à tarde.

Mais tarde verifiquei que alguns desses “advogados” seguiram mesmo essa carreira profissional.

Principalmente para os putos havia os tradicionais “borrachos”, isto é, a pedido dos “veteranos” enchiam a boca de ar que era esvaziada pela pressão feita pelos dedos indicador e polegar.

De caloiro passava-se a “bicho”, mas depois do natal já era tudo uma família e os putos acabavam por ter um protector a que recorriam em caso de necessidade.



Anos depois e quando já estava a trabalhar lembro-me que na Avenida da República em Lisboa fui interpelado por um meu protegido, de que não me recordo o nome, que estava a completar o seu curso universitário. Retenho, contudo, a sua fisionomia mas naturalmente que lhe perdi o percurso.

Já na cidade onde vivo e por volta de 1990 fui reconhecido por outro, após cerca de vinte e cinco anos de afastamento mas desse lembrava-me do nome. Foi ele que me reconheceu após tantos anos.

Relacionado com o mesmo assunto tenho outro facto a referir. Um dos meus professores que mais tarde veio a ser reitor do liceu quando o filho foi para o primeiro ano veio entregar-mo para fazer parte do cortejo. Lá o preparei tisnando e “paramentando-o. Vim a colocá-lo à testa do cortejo. Consta-me que é médico especialista em Lisboa.



Outro dos caloiros, bom amigo e com quem de vez em quando estou, lembra-me ainda hoje o trabalho que lhe dava de levar-me os livros para casa pois morava próximo de mim!

Apesar do rigor desses tempos desde o uso da gravata a não se poder acompanhar as colegas a partir do paralelo 38 (!), etc., não me lembro de ninguém ser castigado ou levado à presença do reitor para qualquer chamada de atenção referente a este assunto.

Consta-me que a marcha dos caloiros foi proibida a partir de 1961 pois as piadas políticas começaram a ser mais abertas e como tal ... acabou-se.

Aqui fica este pequeno “Quadro de Santarém dos meus Tempos”.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Recordando o Professor e Maestro Joel Canhão



Tencionava escrever estas simples palavras aquando da passagem do 1º aniversário do seu falecimento mas circunstâncias várias tal não me permitiram.

E porquê?

Além de excelente profissional e de valioso curriculum, foi meu professor de Canto Coral na Liceu de Santarém e depois Maestro no Grupo Coral Alfredo Keil que ajudou a fundar e onde modestamente participei até 1967, altura em que a carreira profissional me “obrigou” a ir para outras paragens.

Enquanto frequentei o Liceu Nacional de Santarém, Joel Canhão foi sempre o meu professor de Canto Coral. Era ainda um jovem, com 21 anos e só muitos anos depois reparei que só tinha mais dez anos do que eu. Por outro lado, nos anos mais adiantados tinha alunos praticamente da sua idade.

Era um homem muito rigoroso e disciplinador e sabia manter o respeito dentro das aulas.

Havia, naturalmente, quem não gostasse dele considerando-o muito emproado e vaidoso, o que não coincidia com a minha opinião.

Estava sempre com atenção nas suas aulas onde não havia notas de fim de período, mas sim musicais. O pouquíssimo que conheço sobre música e canto a ele o devo. Punha-nos a ouvir música clássica mas antes de pôr o disco a girar, fazia grande palestra sobre o autor, desde os dados biográficos ao pormenor, analisava e punha em evidência as suas características musicais. E ao fazê-lo vibrava com o que dizia.

Obviamente que exigia o máximo silêncio e quando isso não acontecia era implacável e as faltas injustificáveis sucediam.

Durante a audição, a sua concentração era máxima, fechava os olhos e a cabeça e o corpo davam azo à sua sensibilidade musical.

Claro que o professor tinha as suas preferências musicais. Além dos “monstros”, não me esqueço que tinha uma predilecção pelo espanhol, se a memória não me falha e já se passaram mais de sessenta anos, Manuel de Falla.

Foi com ele que aprendi a distinguir muitos instrumentos musicais, as pautas de clave de sol e clave de dó, a saber distinguir as notas e até a solfejar.

Era muito rigoroso na escolha das vozes. Eu fiz sempre parte do orfeão do Liceu, sendo a minha voz de soprano e mais tarde de tenor.



Ainda possuo um cartão identificativo dessa circunstância, escrito com a sua maravilhosa caligrafia e assinado.

Lembro-me que uma vez, na altura ele era o Maestro do Orfeão Scalabitano, convidou uns tantos alunos do liceu e eu fui um deles, para cantar o Hino Nacional juntamente com os elementos do orfeão numa festa realizada na Igreja da Graça, em Santarém. Calhou-me ficar próximo da grande solista Lurdes Dória que tinha uma voz espantosa. Resultado, ao abrir a boca verifiquei que estava desafinado e então limitei-me a fazer mímica, confessei-o depois ao Maestro e queixei-me à D. Lurdes Dória, que se riu.

Só mais tarde consegui essa independência de voz no Coro Alfredo Keil e até porque eu era o 1º tenor que ficava ao lado do 2º tenor.


Entretanto, a vida foi dando as suas voltas e dois ou três anos depois regresso à minha cidade. Entro numa desaparecida pastelaria que ficava junto à Capela de Nª Sª da Piedade e qual não é o meu espanto quando me aparece o professor Joel Canhão a cumprimentar-me efusivamente, acabando por me dar notícias da formação de um grupo coral e ao mesmo tempo convidando-me para fazer parte dele.

Apesar de não me sobrar muito tempo, pois além da ocupação profissional estava-me preparando para um concurso, aceitei o convite porque acreditava no projecto.

Lembro-me perfeitamente que gerou alguma polémica a escolha do patrono para o grupo, pois podia ser conotado com posições políticas e até porque interpretávamos muita coisa harmonizada pelo grande Maestro Lopes Graça.

O coro era masculino e rondava os dezoito elementos com base em ex-orfeonistas do Orfeão Scalabitano. Lembro-me muito bem do Maestro dizer:- Para ir para um palco com dezoito gatos pingados e as coisas saírem razoavelmente, temos todos de ser muito bons, cada um de vós tem de ser um solista!

Ensaiámos em diversos locais, por deferência dessas Entidades, numa dependência da igreja de S. Nicolau e no Seminário.

A nossa apresentação foi feita no antigo Ginásio do Seminário, praticamente para familiares e amigos e ainda possuo o programa.

Entre outras actuações, lembro-me de termos actuado para os doentes do Hospital da Misericórdia de Santarém, para os presos da Cadeia Penal de Alcoentre e do Presídio Militar.

[Dossier do Grupo Coral Alfredo Keil]

Numa festa organizada no Teatro Sá da Bandeira onde o Maestro Joel Canhão fez uma regência fantástica na peça, o Coletinho! Nunca tinha regido assim, mas o grupo seguia-o cegamente e como tal, saiu maravilhosamente. Claro que depois todos comentámos o assunto com alguma admiração.

Talvez a última exibição em que entrei teve lugar na Feira do Ribatejo de 1966 e lembro-me de termos cantado com sucesso a Canção do Vinho, num palco, ao ar livre.

É minha recordação o dossier do grupo coral, em que o tom amarelo do tecido começa a esbater-se com o decorrer dos anos. Guardo também o seu conteúdo constituído por todas as peças que cantei. Também lá se encontra o “programa” da apresentação que fizemos no Ginásio do Seminário, policopiada.

A forra dos “ dossiers “ foi trabalho feito e oferecido pela esposa do Maestro de que não recordo o nome.

Infelizmente a fotografia que possuía do Coro e tirada no Rosa Damasceno deteriorou-se com a humidade e estava colocada na parede de uma casa de residência temporária, o que muito me desgostou.

O convite formulado ao Maestro para dirigir o Orfeão Académico de Coimbra foi-nos naturalmente comunicado e todos ficámos eufóricos com ele, pois era uma grande distinção para Joel Canhão, que bem a merecia pelo seu talento e rigor no trabalho. Ainda que nos fizesse muita falta, todos o incentivámos a aceitar tão honroso convite acrescido de melhores condições de vida.


Para terminar apresento uma pequena nota biográfica sobre o Cidadão, o Músico e o Maestro.


[Igreja Matriz de Barosa]
Nasceu em Barosa, freguesia do concelho de Leiria em 1927.Estudou no Conservatório Nacional de Lisboa tendo obtido o diploma do Curso Superior de Piano.

Concluiu o Estágio de Professor de Canto Coral no Liceu Pedro Nunes sob orientação de Luís de Freitas Branco e de Frederico de Freitas.
Foi bolseiro do Instituto para a Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Estudou Direcção Coral e Canto. Com Fernando Lopes Graça aperfeiçoou piano e harmonia.

Também foi bolseiro da Universidade de Coimbra frequentando os Cursos Internacionais da Costa do Sol.

Voltou a ser bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Universidade de Coimbra, aperfeiçoando-se em órgão passando depois a desempenhar o lugar de organista titular da Universidade de Coimbra.

Desempenhou as funções de professor de Canto Coral em vários liceus e foi docente na Escola do Magistério Primário de Coimbra, da Escola Superior de Educação de Coimbra e na Universidade de Aveiro.

Quando era professor de Canto Coral do Liceu Nacional de Santarém foi director artístico do Orfeão Scalabitano.

Fundou e dirigiu o Grupo Coral Alfredo Keil de onde saiu para dirigir o Orfeão Académico de Coimbra.

Foi fundador e dirigiu o Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.

Dirigiu numerosos concertos no país e no estrangeiro, como em França, Brasil, Japão, África do Sul, Angola, Moçambique, etc.

Foi condecorado em 1987 pelo então Presidente da República, Dr. Mário Soares, com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e agraciado em 2007 com a Medalha de Mérito Cultural pela Câmara Municipal de Coimbra.

No campo da investigação, tem o seu nome ligado à descoberta de um fragmento do Antifonário do Ofício, provavelmente do Séc. XII.

Publicou alguns trabalhos em livro sobre educação musical.

Desde bem novo que se dedicava à poesia utilizando o pseudónimo Moura Serpa tendo publicado três livros nesta área..

Faleceu em Coimbra em 2010 com 82 anos de idade e foi sepultado na sua freguesia natal.

domingo, 12 de junho de 2011

Vigário Miguelista em Pernes

Pequena nota
Tendo encontrado em pesquisas este interessante documento, transcrevo-o neste espaço para a leitura de possíveis interessados.
JV

Falla dirigida a S. M. pelo Vigario de Pernes

[Postal representativo da Vila de Pernes]

Senhor, - Rasgado finalmente com a faustíssima chegada do Serenissimo infante o Senhor D. Miguel á Villa de Santarém, e de Vossa Magestade a Villa Franca de Xira, rasgado sim o denso véo, que geralmente cegava a Nação, doces affectos assás encontrados se apoderárão dos habitantes de Pernes ; de tristeza hum , outro de summo prazer, e alegria: de tristeza em pensarem, que tinhão estado debaixo do jugo do systema Maçonico , enganados da fé publica: de summo prazer, por verem, que Vossa Magestade hia a ser restituido aos Direitos, que a legislação Divina lhes concede, e a retocar as Chagas, que á nossa Santa Religião tem aberto os impios Systemáticos.

Não se embaraçando já com medo dos Mações, e exaltando de prazer o Vigario da Matriz Manoel Cadima, no dia primeiro de Junho fez na Igreja das Congregadas daquella Terra, que se achava apinhoada de gente , hum copioso discurso, no qual á clara luz do meio dia demonstrou, que o Systema, chamado Constitucional, não era algum outro, que o dos Mações, homens Atheos, cujos fins são demolir os Thronos , e extinguir a nossa Santa Religião, humam religião, que foi plantada com os trabalhos, e sangue do Homem Deos, pregada ao través de tantos perigos pelos Sagrados Apostolos , regada com o sangue de mais de 18 milhões de Martyres , e sustentada com as virtudes de tantos milhares d`Anacoretas, Confessores, Virgens, e Pessoas de todos os estados, e ambos os sexos, protestando elle Vigario , que se enganado pela fé publica seguira geralmente com todos aquele Systema, agora que o conhecia, o detestava, abominava, e execrava de todo o coração, e que desde então nenhum de seus Paroquianos o podia seguir sem gravame de consciencia ; não devendo pessoa alguma escrupulizar sobre o juramento de causa má não liga, por não dever ser o juramento vinculo de iniquidade , como dizem todos os Theologos com Santo Agostinho. Grande foi a impressão, que aquelle discurso fez nos Ouvintes , especialmente nas Congregadas, de sorte que vendo o precipício a que se encaminhavão, derão graças ao Omnipotente Deos, por se haver dignado acudir-nos em tão grande perigo.

Naquelle mesmo dia tendo feito convocar todo o Clero á Matriz, ahi fez elle Vigario huma solenne acção de Graças, constante de Missa cantada, e Sermão, pela Incolunidade de Suas Magestades , do Sereníssimo Infante o Senhor D. Miguel, e de toda a Real Familia , e pela extincção do Systema, chamado Constitucional, celebrando a Missa o Beneficiado Joaquim Cadima, Presidente da Matriz, e Prégando elle Vigario hum discurso analogo . No fim da Missa houve hum solemne Te Deum, e á noite humam illuminação admiravel, dirigida pelo zelo, e actividade do mesmo Beneficiado, com largos repiques de todos os sinos. Tanto obrou aqulle Vigario , e pouco ainda para seus desejos.

O Vigario pois de Pernes, Senhor, com todos os seus Paroquianos, exultando de alegria, protesta a Vossa Magestade a maior fidelidade, e lhe offerece sua fazenda, e vida, continuando não só no incruente Sacrifício, se não tambem á Estação da Missa Conventual, a rogar ao Omnipotente Deos pelas preciosas vidas de Vossa Magestade, e de toda a real Familia.

Pernes 2 de Junho de 1823. – Beija a Augusta Mão de Vossa Magestade seu muito reverente e fiel subdito , o Vigario Manoel Cadima.

domingo, 5 de junho de 2011

Massa à barrão



De uma maneira geral, a indicação de um prato começa pela referência à substância mais importante ou mais abundante com que é confeccionado.

Não vou aqui apresentar uma receita formal com quantidades, tempos de cozedura, etc... pois não é isso que está neste âmbito.

O prato indicado, muito utilizado na freguesia da Várzea e em toda a região do “Bairro”, dá pelo nome, como o título indica, de “massa à barrão” pelo que se supõe que a massa seria a “iguaria” e à barrão por “inventada” pelo homem do “Bairro” designado popularmente por “barrão” e onde está impregnado algum sentido depreciativo.

Quando comecei a interessar-me por estes assuntos, há mais de 40 anos, conversei com uma varzeense (*) com alguma idade que sempre viveu na sua freguesia natal onde fez todos os trabalhos do campo destinados às mulheres, procurando indagar como era a alimentação nos seus tempos de trabalhadora rural.

Quando lhe falei na massa à barrão que eu já conhecia e referi a existência de bacalhau no cozinhado, foi peremptória dizendo-me que isso era agora porque no seu tempo de jovem não era assim, pois tratava-se apenas de massa (macarrão) guisada com batata cortada aos quartos. Azeite que na zona todos tinham, nem que fosse o proveniente do rabisco, ou rabiscão, cebola, alho, tomate salsa e louro, conforme as disponibilidades. Nisto tudo, a única coisa que se comprava era a massa e deve porvir daí o nome do prato típico.

Mais tarde e por ser um produto na altura considerado barato começou a ser introduzido o bacalhau que depois de cozido é lascado retirando-se –lhe as espinhas e é com o auxílio da água em que é cozido que o guisado é feito.

Naturalmente que de princípio era só um cheirinho de bacalhau mas quando as condições económicas foram melhorando, este também aumentou.

É um prato que muito aprecio e que não encontro na restauração.

(*) A nossa amiga já faleceu há muito mas tem por cá uma filha e netos com quem por vezes estou.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Largo das Amoreiras



Quem sabe em Santarém onde e como era o Largo das Amoreiras e do ambiente que o cercava? Só gente que ultrapassou os 65 e que foi criada no velho burgo e mesmo esses, só os que conseguem manter uma memória razoável.

O que vamos descrever tem, como não pode deixar de ser, falhas e lapsos que ao longo dos anos o decorrer da vida com as atribulações próprias nos fazem cometer.

O Largo das Amoreiras foi sempre assim que o ouvi chamar ainda que a designação oficial fosse Praça ou Largo Cândido dos Reis, em homenagem ao Almirante republicano que se suicidou em 5 de Outubro de 1910, pensando gorada a Revolução, situa-se em frente do antigo hospital de Jesus Cristo, fundado por João Afonso de Santarém ou João Afonso de Aguiar e cujos restos mortais repousam na Igreja de S. Nicolau.

O hospital foi aqui instalado (Convento do Sítio) depois de 1834.

Ficava assim ao cimo ou à entrada da Avenida dos Combatentes, artéria primeira e principal do “Meu Bairro”.

O antigo Convento das Donas, lembro-me muito bem de andar em obras, quando albergava o Regimento de Artilharia 6 e onde hoje se encontra instalada a PSP, uma ala lateral pintada de cor amarelada, que não me lembro de ter qualquer entrada, mas sim janelões altos, ocupava e ainda hoje lá está, o limite do Largo por este lado.

Quando era bem miúdo, por volta de 1943/44, não havia estrada, era caminho de terra batida e só mais tarde foi feita com passeio junto ao velho casarão e o do lado oposto que separava o largo.

A estrada para Lisboa bem estreita que era, passava junto ao antigo seminário e onde entroncava a travessa do Postigo, que ainda existe, passava junto ao estabelecimento comercial do Sr. Joaquim Vicente Serrão lembro-me bem da sua figura, pouco depois nela ia entroncar uma das principais vias da cidade que tinha como “baluartes” de um lado a nova estação dos CTT e do outro a C.G. Depósitos.

Recordo com alguma saudade uma cabina cilíndrica envidraçada a partir de determinada altura, pintada de vermelho e branco, se a memória não me engana, que se situava mesmo em frente da rua e constituía a estação semafórica da altura e onde se encontrava um polícia com capacete branco que manualmente ia regulando o trânsito através dos sinais luminosos de verde, amarelo e vermelho.

O povo chamava-lhe a “Gaiola do Canário”. A estrada para Lisboa continuava passando próximo do local onde se situou a Porta de Manços e onde fazia uma curva acentuada junto à qual e no Largo das Amoreiras se encontrava um fontanário muito movimentado e conhecido por” Fonte do Boneco”, desconhecendo eu a razão do topónimo. Lembro-me muito bem de que quando ia para a escola do Pereiro, não a actual mas a que foi destruída e isto em 1945/46, tivesse sede ou não, nunca deixava de ali beber água. A estrada continuava junto ao casario e onde se encontrava uma das mais afamadas tabernas de Santarém, a Taberna do Peste e ia passar mesmo junto à então capela mortuária do hospital. Pouco depois existiam as escadinhas de acesso à Rua Prior do Crato, então das mais novas do meu bairro, onde a construção subiu em altura mas sem rua pavimentada, o que aconteceu muito depois.

Mais abaixo e do lado esquerdo encontrava-se a antiquíssima Fonte das Padeiras, então de boa água e a que recorria a gente do meu bairro quando a água faltava nas torneiras.
Algumas vezes lembro de lá ir fazer a recolha.

Pelo que acabei de escrever, o Largo das Amoreiras situava-se entre o fachada principal do hospital de Jesus Cristo, a fachada lateral do Quartel do Regimento de Artilharia 6 e a estrada que ia para Lisboa passando junto àquele casario onde se destacava pelo movimento a Taberna do Peste onde havia sempre petinguinhas ou jaquinzinhos fritos e outros petiscos do género.

Era nesta taberna que se formalizava o contrato de pessoal para os serviços agrícolas selado com o pagamento do patrão ou seu representante (feitor, capataz) da molhadura, ou seja, meio litro de vinho.

Era em frente da taberna e no Largo das Amoreiras que ao domingo e dentro de determinado horário que o uso e costume marcou que se juntassem os homens à procura de trabalho e aqueles que precisavam deles.

O Largo das Amoreiras era totalmente térreo tendo alguns bancos espalhados junto do tronco de velhas árvores, muitas delas quase secas. Certamente que algumas seriam amoreiras para justificar o aparecimento do nome mas não tenho qualquer ideia sobre isso. Que eram troncos grossos e alguns meios secos, isso lembro-me bem, tal como dos bancos constituídos por duas únicas tábuas, uma servindo de assento e a outra para recosto. Eram fixas por grossos parafusos a dois pés de ferro forjado com alguma elegância e fixos a blocos de pedra calcária.

Lembro-me de ouvir contar ao meu pai que numa entrada de toiros, que eram da ganadaria (?) Caroça, os quadrúpedes arrancaram parte dos bancos, tal era a sua bravura!

Outra coisa que ainda permanece na minha memória é o facto de entre o Largo das Amoreiras e a fachada lateral do quartel, na altura das seculares Feiras da Piedade e do Milagre que tinham lugar no Campo Fora-de-Vila, os feirantes estenderem-se para aí, principalmente os vendedores de fruta (lembro-me dos peros aos montes) e de louça de barro.

Com a construção do Palácio da Justiça (fins da década de 50) e a abertura da Avenida Sá da Bandeira, a estrada para Lisboa mudou de trajectória indo passar ao meio do Largo das Amoreiras que desapareceu totalmente tendo-se procedido ao seu ajardinamento, à colocação da estátua de Pedro Álvares Cabral, hoje junto à Igreja da Graça, à instalação de uma ou duas “bombas de gasolina” e à feitura de sanitários subterrâneos.

Depois disto que conheci bem, sei que tem havido várias transformações mas que não sei descrever.

Quando por lá passo, parece-me que não sei onde estou!

N.B.
A foto apresentada e da autoria do Major Fernando de Carvalho Tártaro é um recorte da que consta do Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937 – 1940. Ainda não existia a “gaiola do canário”.
JV

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Manuel Latino


Nasceu em Santarém em 1878.

Seguiu a carreira militar e em 1940 era general. A par da sua profissão esteve sempre muito ligado ao desporto, principalmente ao equestre.

Foi comandante do Regimento de Cavalaria Nº 2, da Escola Prática de Cavalaria (1935/37), da 1ª Brigada de Cavalaria, em Estremoz, inspector e director da mesma arma.

Foi membro da Sociedade de Geografia.

Desempenhou as funções de presidente da Comissão Superior de Educação Física do Exército, da Federação Equestre Portuguesa e foi fundador da Sociedade Hípica Portuguesa, em 1910, de que foi director durante 20 anos.

Conquistou a taça «Rainha D. Amélia» em 1902, em Torres Novas e foi campeão de sabre. Já como Brigadeiro ganhou em 1932 um «Cross Country».

Mestre de equitação na Escola do Exército em 1915, foi chefe da equipa de cavaleiros portugueses em vários concursos hípicos, como em Madrid, Paris, Roma e Milão, entre outros e isto entre 1924/34. Foi presidente do Comité Olímpico Português (1946).

Durante 20 anos organizou os concursos hípicos da Figueira da Foz, e igualmente prestou a sua colaboração na organização dos concursos e corridas na Marinha, Campo do Jockey e Estoril.

Presidiu à comissão organizadora da 1ª Exposição Triunfal dos Desportos, em 1934.

Quando o General Alberto da Silveira foi ministro da Guerra, fez parte do seu gabinete sendo seu delegado na cerimónia de inauguração do Monumento aos Mortos Portugueses, em Gand, 1928.

Entre as várias condecorações contam-se o Grande Oficialato de Cristo, Avis e da Ordem de Instrução, Comendador da Ordem de Santiago de Espanha e Grã-Cruz de Avis.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971

terça-feira, 5 de abril de 2011

P. José Maria Antunes

(Publicado no Correio do Ribatejo de 21 de Abril de 2011)



Nasceu em Santarém em 22 de Maio de 1856.

Entrou para o seminário em 1867 após selecção entre quarenta e cinco concorrentes e quando o mesmo abriu na antiga rua de S. Lázaro em Santarém (actual Pedro de Santarém).

Em 1870, quando a casa fechou as portas e os padres transitaram para Gibraltar, acompanhou os mestres.

Foi para França onde se ordenou nos seminários da Congregação do Espírito Santo.

Em 1881, é professor de Ciências Naturais no Colégio do Espírito Santo em Braga.

No mesmo ano, o Padre Duparquet regressa duma viagem à Europa acompanhado pelo padre José Maria Antunes, que funda a missão da Huila, mandando arrotear 2000 hectares de terreno e dirigindo uma exploração agrícola em moldes evoluídos, numa tentativa para influenciar os nativos, devendo-se a ele o grande impulso para a evangelização do Sul de Angola, tendo contribuído para melhorar o nível de vida das populações.

Durante 23 anos desenvolveu uma actividade notabilíssima como pároco e superior da missão.

Por sua iniciativa e em direcção à parte oriental são fundadas as missões de Jau (1889), Chivinguiro (1892), Quiíta (1893), Munhino (1898) e por último Gambos (1894).

Em 1904 vem para a metrópole na qualidade de Provincial, cargo que ocupa até 1910, quando foi extinta em Portugal a Congregação do Espírito Santo a que sempre pertenceu.

O Padre José Maria Antunes foi também um cientista no campo da ornitologia e da botânica.

Os museus de Berlim, Paris e Coimbra de História Natural beneficiaram com o envio de amostras por si recolhidas em Angola.

Faleceu em 1928.

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Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, Edição da Comissão Municipal de Turismo de Santarém, 1971.

História de Portugal, Vol. XI, Joaquim Veríssimo Serrão, Editorial Verbo, 1989.

http://www.pessoalissimo.com/Terra/Lubango resenha-historica.htm

http://www.muhuila.hpg.ig.com.br/lubango.htm

domingo, 3 de abril de 2011

Os gravateiros

(Publicado no Correio do Ribatejo de 8 de Abril de 2011)



A gravata é um acessório que vem de épocas recuadas e que o andar dos tempos tem provocado transformações.

Segundo os entendidos parece que a designação «gravata» seria proveniente da deformação da palavra croata já que os soldados desta origem e recrutados pelo rei de França, Luís XIII, traziam um lenço atado ao pescoço.

A primitiva razão da existência deste acessório pensa-se que tem a ver com o suor produzido, recorrendo-se a ela para o minorar, por isso, como sudário.

Em meados do século XVII começa a ser usada por Luís XIV, estendendo-se a toda a corte, de seda, adornada de rendas e já com um sentido diferente.

O uso, naturalmente, espalhou-se por toda a Europa e por todo o Mundo com transformações acentuadas.

Nos princípios do século XIX, se um homem tocasse o lenço no pescoço de outro a ofensa era tão grave que poderia acabar em duelo.

Em meados do século XIX começam a surgir novas maneiras de atar as gravatas.

Parece que o actual estilo de gravata é do primeiro quartel do século passado e tem origem nos Estados Unidas da América, tornando-se mais funcional, mais longa e mais estreita.

Três dos dicionários que consultámos apresentam as seguintes definições: “Pedaço de tecido, de formas diversas, que se ata em volta do pescoço” (Dicionário Prático Ilustrado, Dir. de Jaime de Séguier, 1972), “Manta, laço ou fita que orna o pescoço” (Dicionário da Língua Portuguesa de Fernando J. da Silva, 4ª Edição, 1984) e “acessório de vestuário masculino, que consiste numa tira de tecido, estreita e comprida, usada em volta do pescoço, por baixo do colarinho da camisa, formando um nó à frente” (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa – Verbo, 2001)

Como se pode verificar, os três dicionários que escolhemos com alguma distância no tempo, apresentam definições com alguma diferença, pois naturalmente verifica-se com o decorrer dos tempos o ajustamento adequado.

O dicionário mais recente já indica a gravata como acessório de vestuário masculino ainda que tenhamos visto muita mulher de gravata.

A pouco e pouco a gravata torna-se um acessório indispensável ao homem que o usa por obrigação em muitos casos, principalmente em determinadas profissões e em que não há liberdade de escolha, mas para o cidadão comum pode proporcionar um toque de elegância. Quem não pusesse gravata, julgava-se que não estava bem vestido!

No nosso tempo de liceu começou a ser obrigatório o uso de gravata pelos rapazes e quando não fossem portadores dela apanhavam uma falta a vermelho (de castigo). As raparigas não podiam “andar em pernas”, isto é, tinham de usar meias.

Apesar de tantos anos passados lembramo-nos da polémica que tal causou e havia um professor que não concordava nada com isso, ainda que nunca o tivesse dito, exigindo aos alunos que transportassem a gravata, mas não lhe interessava onde, acontecendo que se engravatavam as mais variadas partes do corpo.

Este professor de que nunca fomos aluno, não podemos precisar se antes ou depois, causou alguma polémica, para não dizer escândalo, usando umas bonitas sandálias, às quais, sendo poeta, dedicou uns versos.

Em todas as repartições públicas era obrigatório o uso da gravata, assim como em todas as profissões em que se tinha que atender público, ninguém o fazia sem estar convenientemente engravatado.

Ninguém ia para um baile sem levar gravata, ninguém ia para uma pequena festa sem levar gravata, isto para não falar em cerimónias mais pomposas como casamentos, baptizados ou festas de anos.

Quem é que ia a um funeral sem levar uma gravata preta? Ninguém.

A gravata passou a constituir um luxo e mudava-se quase diariamente.

É assim que em concorrência com as casas da especialidade aparecem os vendedores ambulantes de gravatas, os chamados gravateiros, que originaram o título desta croniqueta e que vendiam mais em conta.

Estes homens governavam a vida só vendendo gravatas, tal a venda que faziam! Usavam na sua actividade uma barra de madeira com cerca de um metro de comprimento à qual fixavam, nas extremidades, uma correia de cabedal com aproximadamente dois dedos de largura proporcionando um arco que passava pelo pescoço, suportando assim a barra onde colocavam as dezenas de gravatas que transportavam das mais variadas cores e padrões. Havia gravatas para dois ou três preços, proporcionando desta forma satisfazer toda a clientela.

Percorriam as ruas do velho burgo, fazendo aquilo a que se chamava a volta dos tristes, começando no “Largo do Seminário”, Rua de S. Nicolau, Rua da Misericórdia, Praça Velha, Rua Direita e voltando ao Largo do Seminário. É claro que por vezes faziam alguns desvios a ruas próximas, que tivessem na altura mais movimento ou onde pudessem passar fregueses habituais. Tiravam uma gravata do mostruário, simulavam um nó e procuravam mostrar ao freguês que lhe ficava muito bem com aquele fato.

Quando o negócio estava mais fraco na velha cidade, apareciam esporadicamente num bairro periférico ou então deslocavam-se em transportes públicos às vilas das redondezas, como Cartaxo, Almeirim e Alpiarça e possivelmente a outras.

Hoje a gravata já não tem o mesmo significado que tinha e o seu uso decresceu imenso, havendo mesmo homens que praticamente nunca a usaram ou se o fizeram foi em momentos muito especiais.

Pela nossa parte ainda possuímos uma ou duas dúzias de gravatas mas confessamos que raramente as pomos. Trabalhámos num concelho onde as altas temperaturas verificadas obrigavam-nos a tirar a gravata logo que terminávamos o trabalho e a partir daí nunca mais utilizámos a gravata como era de costume. Este texto no momento em que o escrevemos nem tínhamos gravata apesar de o ambiente estar fresco!

Esta diferença de comportamento pode ser observada no dia a dia em qualquer lugar, incluindo nos “audiovisuais” .

Em meados do século passado os gravateiros davam colorido ao velho burgo escalabitano sendo uma parte importante do fervilhar comercial que então a velha cidade possuía e hoje em completa decadência.

Gravateiro, uma actividade extinta como tantas outras!