sábado, 8 de janeiro de 2011

A Inquisição na freguesia da Várzea

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 3 DE OUTUBRO DE 2008)



[Papa Paulo III]
A inquisição foi introduzida em Portugal a pedido de D. João III, por bula do Papa Paulo III, de 22 de Maio de 1536, destinando-se a impedir os abusos e delitos dos hereges contra a Religião Católica, ou crimes considerados graves contra os bons costumes, e a castigar aqueles que os praticassem, tendo sido estabelecidos Tribunais do Santo Oficio em Évora, Lisboa e em Coimbra, pelo menos.

A acção terrífica destes Tribunais fez-se sentir por todo o país e igualmente além fronteiras.

Naturalmente que a freguesia da Várzea, não foi excepção, conforme os exemplos que conseguimos obter.

Certamente existirão outros exemplos que desconhecemos.
Veremos então.

Dois padres da freguesia vieram a ser vítimas da acção danificadora desta Instituição.

O primeiro, Clérigo Presbítero do Cabido de São Pedro, é natural e morador na Várzea, filho de Simão Madeira, Capitão dos Auxiliares e natural da Azóia de Baixo e de Helena Madeira, esta natural da Várzea. Os avós eram considerados lavradores.

Tinha 51 anos e era Cura da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição da Várzea [Várgea] quando foi preso a 7 de Dezembro de 1741 e acusado de “solicitação”, isto é, convidar a ter relações sexuais, quando feitas no acto de confissão (Inquisição de Évora, dos Primórdios a 1668, António Borges Coelho, Vol. I, Ed. Caminho, 1987, págs. 270, 271)
Foi sentenciado quase um ano depois (20 de Novembro de 1742) com as sentenças de abjuração de leve suspeita na Fé, seja privado para sempre de confessar, suspensão do exercício das suas ordens, por oito anos com degredo por igual tempo para fora do Patriarcado de Lisboa e interdito de voltar à freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Várzea. (Processo nº 8672 do Pe António Madeira, Tribunal do Santo Ofício de Lisboa – ANTT)
O segundo caso passa-se com o Pe. Alexandre de Figueiredo, que presumo pudesse ter substituído o anterior e que era natural de Porto de Mós, sendo filho de Francisco Pires, oficial de ferreiro e de Anastácia de Figueiredo.

Tinha 42 anos quando foi preso em 21 de Maio de 1743, acusado de sacrilégio, acto de impiedade com que se profanam as coisas sagradas ou ultraje a pessoa sagrada ou venerável.
[D. João III]
No auto-de-fé de 27 de Julho de 1743, tem como sentença o ser advertido a não repetir a culpa. (Processo nº 44 do Pe. Alexandre Figueiredo, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa - ANTT).
De âmbito completamente diferente, mas também sujeito à apreciação do Tribunal do Santo Ofício, é a pretensão apresentada por Josefa Maria no sentido de exercer o lugar de ama [do Paço].

Natural do lugar de Perofilho, mas residindo na freguesia das Abitureiras, filha de Manuel Pessoa, natural da Quinta do Mocho (Várzea) e de Maria Lobeira, varzeense do lugar de Vale de Donzelas. Os seus avós paternos igualmente eram naturais de freguesia da Várzea e os maternos, ele da Romeira e ela de Vale de Donzelas, onde residiam.
Era casada com Francisco da Costa Sequeira e sobrinha do Familiar do Santo Ofício, Manuel Colaço Lobo.

Na documentação facultada não se refere o resultado da pretensão. (Diligência de habilitação de Josefa Maria, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações de Mulheres, mç. 3, doc.10 – ANTT)
Aqui fica este pequeno apontamento para a história da freguesia da Várzea.