terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Manuel Constâncio

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 6 DE JUNHO DE 2008)



Manuel Constâncio Alves, de seu nome completo, nasceu no lugar de Sentieiras, freguesia de S. Vicente da actual cidade de Abrantes em 4 de Agosto de 1726.

Falecendo seu pai, que era um pequeno agricultor, em 1738, foi a família viver para perto da vila do Sardoal onde iniciou o estudo das primeiras letras e depressa aprendeu o ofício de barbeiro com cujos rendimentos ia sustentando a família que era numerosa.

Como era hábito nesse tempo a tais profissionais, Manuel Constâncio quis ser sangrador, arte que praticou com um padrinho de baptismo de uma sua irmã.

Começa a estudar português e latim em Abrantes, continuando a exercer a sua profissão e aproveita para frequentar quando pode o hospital local.

Com vinte e um anos, o marquês de Abrantes, possivelmente reparando nas suas faculdades, leva-o para Lisboa, arranjando-lhe o lugar de criado na casa de seu cunhado, o Conde de Portimão, D. Pedro de Lencastre.

Cerca de três anos depois, com vinte e quatro anos, Manuel Constâncio, inscreveu-se como praticante de cirurgia com o licenciado José Elias da Fonseca, no Hospital de Todos-os-Santos de Lisboa.

Na época a cadeira de anatomia era dirigida pelo cirurgião francês, Pedro Dufau que o Marquês de Pombal trouxera para Lisboa com intenção de reformar os estudos nessa área da medicina o que atraiu Constâncio.

Com os conhecimentos adquiridos, apresenta-se a exame de sangrador, obtendo a sua carta em 16 de Julho de 1754, por isso com vinte e oito anos de idade.

Não ficam por aí os seus objectivos pois quatro anos depois apresenta-se a exame de cirurgião, obtendo para o efeito a carta datada de 21 de Outubro de 1758.

É nomeado entretanto para o cargo de cirurgião-ajudante do corpo de tropas comandadas pelo marquês de Marialva, quando as tropas francesas e espanholas invadem Trás-os-Montes.

Em 11 de Novembro de 1763, substitui Dufau no ensino da Anatomia devido aos problemas criados pela guerra. Assume em 1 de Outubro de 1764 a regência definitiva da Cadeira por jubilação de Dufau, tendo sido este que o indicou para o substituir.

Casou aos cinquenta e um anos, tendo tido três filhos e uma filha.

Um dos filhos, Francisco Solano Constâncio foi médico, escritor e político e a filha, a Marília das poesias de Bocage.

Pela sua reputação clínica, foi nomeado cirurgião da Casa Real por alvará de 26 de Janeiro de 1786 e pouco depois cirurgião da Real Câmara.

Pelo seu desempenho mereceu receber o título de escudeiro e cavaleiro fidalgo em 28 de Agosto de 1789.

Manuel Constâncio distribuía generosamente os seus teres pelos discípulos necessitados, certamente pensando no seu difícil percurso de vida.

Foi acima de tudo um professor sapiente, dedicado e progressivo.

Fez escola e os seus discípulos nunca deixaram de enaltecer o nome daquele que soubera despertar neles o interesse científico.

Faleceu a 14 de Julho de 1817, no Sardoal, este abrantino que é um exemplo de trabalho e de competência.

_________________________________________________

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, Edição Século XXI, Vol. 7, pp1021-1022

Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro Lello Universal, Porto, 1975

Dicionário de História de Portugal, dir. de Joel Serrão, Livraria Figueirinhas, Porto, Vol. IV, p. 241

Boletim da Junta de Província do Ribatejo, Anos 1937/1940