domingo, 12 de janeiro de 2014

Barreto Poeira




Grande actor dos tempos da minha juventude.

Ribatejano como eu, nasceu em Vila Franca de Xira a 24 de Abril de 1901.

Aos oito anos faz a sua estreia no teatro de amadores. Durante vinte anos ocupa-se em impulsionar o teatro na sua terra natal, no Grupo Cénico Vila-Franquense, onde participa como actor e encenador.

Apesar disso, não deixa de colaborar com outros grupos como o Grupo Dramático e Beneficente Afonso de Araújo, aparecendo ao lado de Rodolfo dos Santos e de José Maria Guedes Júnior, como co-autor e encenador da revista “Sem Pés nem Cabeça” que foi levada à cena em 1927.

Ao comemorar os seus 31 anos, sobe ao palco para representar a peça de autoria de Faustino Reis Sousa, “ A SESTA” e fá-lo ao lado de Alves Redol, que representava o papel de Manuel, o maioral e de Alda Câncio Tarracha, que era a ceifeira Maria Rosa.

O papel de abegão era representado por Domingos Barreto Poeira.

Esta peça reproduzia os costumes do homem da borda d ‘água e volta a ser representada na 1ª Festa do Colete Encarnado e com o mesmo elenco

Despede-se do Grupo Cénico do Clube Vila-franquense  em fins de 1932 com a peça de Linares Rivas, “Cobardias”.

Fez parte do Clube Estefânia de Lisboa e ainda como amador continua a representar.

Em 1938 entra no cinema, no filme “A Canção da Terra” de Jorge Brum do Canto, onde as críticas lhe são muito favoráveis, passando do anonimato a primeira figura do cinema português, segundo o crítico Artur Portela.

Inicia-se assim a longa série de filmes em que entrou. “Porto de Abrigo” (1940) de Adolfo Coelho, “Fátima, Terra de Fé”, realizado por Jorge Brum do Canto “Amor de Perdição”, trabalho de António Lopes Ribeiro, ambos de 1943, no ano de 1944 e novamente pelas mãos de Brum do Canto entra no “Um Homem às Direitas”onde obtém grande êxito e seguidamente faz parte do elenco numa co-produção Luso-Espanhola “O Diabo são Elas”do realizador Ladislao Vajda. Em 1946 é a vez de “Cais do Sodré” de Alejandro Perla e “Um Homem do Ribatejo” de Henrique Campos, se a memória não me falha, estreado em Santarém, de onde era natural o realizador. Eu tinha apenas oito anos e recordo-me, perfeitamente, do reboliço que houve na cidade.

Em 1947 volta ao teatro, mas agora como profissional, fazendo o protagonista na peça “Ana Cristina” do dramaturgo americano Eugene O ‘ Neil e que teve lugar no palco do Teatro Avenida em Lisboa. Nesse ano entra no filme “Rainha Santa” de Rafael Gil e Aníbal Contreiras e em “Viela Rua Sem Sol” de Ladislao Vajda.

Começa então a alternar o cinema com o teatro e mais tarde, quando aparece, com a televisão.

“Heróis do Mar” de Fernando Garcia e “Vendaval Maravilhoso”, (com Amália Rodrigues) de Leitão de Barros são os filmes onde actua em 1949. Desempenha o papel de Romeiro no filme “Frei Luís de Sousa” realizado por António Lopes Ribeiro (1950).

O último filme em que actua é realizado em 1965 por Manuel Guimarães e tem por título “O Trigo e o Joio”.
A nível televisivo e nas Noites de Teatro da RTP, quando tudo ainda era em directo, entre muitas peças, Barreto Poeira fez parte do elenco de “A Sapateira prodigiosa” de Frederico Garcia Lorca, contracenando com Amália Rodrigues, Costinha, Paulo Renato, Varela Silva e Fernanda Borsatti com realização de Fernando Frazão (1968).

Domingos António Barreto Poeira faleceu em Lisboa a 30 de Outubro de 1980, esta grande figura que ombreou com os melhores na arte de representar.

O seu nome faz parte da toponímia de várias povoações, nomeadamente, na sua terra natal.

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